A Mãe do Ouro é personagem lendária trazida para o Brasil por africanos que vieram para trabalhar na extração de ouro. Ela é a guardiã dos tesouros da terra, das montanhas e dos rios. Aparece como uma luz dourada brilhando próximo ao local onde existe ouro. Muitas lavras foram encontradas por aqueles que viram e acreditaram nesta luz. Ainda hoje ela é vista em Ouro Preto. Dentre muitos um caso chamou a minha atenção. Um senhor estava no Morro São João, em local deserto quando sua caminhote parou e não havia como fazê-la funcionar. Ele tentou de tudo em vão. O pior foi que anoiteceu e ele ficou tentando telefonar para alguém, um mecânico de preferência, que pudesse ajudá-lo. Foi então que ela surgiu. Uma luz dourada, brilhante, não muito longe de onde ele estava. Quando percebeu a luz, ele se voltou para aquela direção e levou um enorme susto quando o mato foi se abrindo em sua frente como se mostrasse o caminho até o ouro. Mas ele estava aflito demais com sua caminhonete, ou seria cético demais porque não seguiu o caminho mostrado. Tratou de consertar seu carro e sair dali o mais rápido possível.
Toda pessoa que enriquece em Ouro Preto o povo diz que foi porque encontrou ouro. É como se vivêssemos pisando sobre veios de ouro subterrâneos. A verdade é que até meados do século XX muitas famílias viviam de tirar ouro nos córregos que atravessam a cidade. E também é verdade que existem muitas histórias verídicas de pessoas que encontraram ouro. A mais conhecida delas aconteceu por volta de 1930 quando foi construída a sede da Associação Comercial de Ouro Preto, ACEOP. O local escolhido foi o lote onde existiu a casa do Tiradentes cuja casa fora demolida e o terreno salgado por ocasião da devassa dos implicados na Conjuração conhecida por Inconfidência Mineira. Muitos anos se passaram e Tiradentes, de traidor, virou herói. Eram novos tempos e o local era bem posicionado, ideal para ser construída a sede da Associação Comercial.
Zé Salame trabalhava como ajudante de pedreiro. Ele era um homem muito simples, de fala macia que gostava de se vestir a moda do faroeste e, às vezes, fazia benzeduras. Retirava ele, o entulho do terreno junto a um paredão muito antigo que existia ao fundo do terreno quando, subitamente, aquele paredão desmoronou e, no meio das pedras que rolaram pelo chão, apareceu um surrão de couro. Zé Salame abriu aquela bolsa e viu lá dentro, um verdadeiro tesouro. Eram barras de ouro, além de moedas e documentos muito antigos. Ele guardou de novo aquela preciosidade e esperou anoitecer.
Noite alta, ele saiu de casa e, cautelosamente, voltou ao local onde havia escondido o surrão levando-o consigo. Sua casa era pobre, chão de terra batida, tinha apenas dois cômodos: o primeiro onde ficava o fogão a lenha e fazia as vezes de sala e o outro onde dormia ele e sua mãe. Guardou seu tesouro debaixo da cama e se considerava um escolhido de Deus, um afortunado. Deste dia em diante, passou a pagar com moedas de ouro tudo que comprava.
Perto do Largo do Rosário, havia um português, dono de um desses armazéns que vendem um pouco de tudo. Era lá onde o Zé Salame ia comprar mantimentos e tomar sua cachaça, pagando sempre com moedas de ouro. Ele não tinha noção do valor do tesouro que havia encontrado e continuou vivendo naquela casa pobre e vivendo na simplicidade.
Certa vez, meteu-se numa briga e acertou seu adversário no olho com uma espingarda de chumbinho. O ferimento foi tratado, o rapaz ficou curado, mas fez questão de ir à delegacia e dar queixa do seu agressor. A polícia passou a procurá-lo por toda parte. Zé Salame, que de bobo não tinha nada, desapareceu. Passou um tempo e ele, acreditando estar tudo em paz, voltou para casa. Triste engano. Um dia estava ele bem tranqüilo, em companhia de sua mãe, quando a casa foi invadida por policiais. Junto estava o delegado dando-lhe ordem de prisão. Sua mãe saiu em sua defesa. Disse que aquele ouro não havia sido roubado e sim achado em um velho paredão no local onde seu filho trabalhava. E ele não podia ser preso por isso. Os policiais, atônitos, perceberam que uma barra enorme de ouro servia para segurar a porta da rua que nem trinco tinha. Seu susto não parou aí, pois a inocente velhinha trouxe o surrão ainda cheio de ouro e mostrou aos policiais. Ela havia queimado alguns papéis que estavam junto ao ouro, porque não conseguia ler os escritos nem entender os desenhos.
O delegado havia entrado na casa do Zé Salame para prendê-lo e achou coisa bem diferente. O certo é que, afinal, o Zé Salame não foi preso, mas ficou sem o seu tesouro.
Angela Xavier
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