BOM DIA OURO PRETO : ESTOU LONGE MAIS NÃO TE ESQUEÇO!
Quarta-feira ensolarada , à beira mar, ouvindo o Viola de Folia e pensando na Festa de Nossa Senhora dos Prazeres em Lavras Novas.
Saudades muitas da gente que ao longo dos anos vamos conhecendo nos aproximando e nos afastando. Turbilhão de lembranças das várias mães de amigas e amigos meus que me acolheram. Tantas são, que citá-las cairia no risco de esquecer algumas.
Fico com os nomes dos bairros e alguns fatos que as identifiquem. Antonio Dias, por onde cheguei, bem na virada, comi broinha, entre papéis recortados aprendi a fazer renda; descendo a Bernardo Vasconcelos ela fazia vestidos pros bailes do 12! Adentro a outra casa onde aprendo a rezar e sempre o angu me espera quentinho com couve! E em frente, a casa que serve aos estudantes a comidinha da mãe!
Entro pros lados da Mina de Chico Rei, uma fazia taioba e a outra me ensinou a cantar pastorinhas junto com as irmãs..Entre a matriz e o largo de Marília ela me aconselhava sempre: devagar com o andor! E me enchia de mimos. Subindo a ladeira de Santa Ifigênia, a mãe-coragem, sempre atenta aos filhos e rezando para mim. E no adro da Igreja, a casa da professora-mãe que a tantos educou; e a casa alegre dos primos de Antonio Dias! Na rua do Horácio Andrade, não tinham idade para ser minhas mães mas eram. Almoços dominicais depois do catecismo e do teatro de bonecos!
Chegando no Padre Faria, frango com quiabo e a banda de São Bom Jesus das Flores!. Retorno pelo Alto da Cruz e rua das Lajes, onde uma tocava gaita e outra bordava. Chego à praça Tiradentes e lembro das meninas do REMOP ainda nos anos 70/80 muitas do Morro Santana e Morro São João e da Terceira.. elas me deixavam dormir antes de servir o café da manhã..(ai como gostaria de citar os nomes!).
Qual direção tomo agora? Crio asas e vou até o Morro de São Sebastião – no Grupo e na casa onde a canjica me espera! Desço pela rua Nova, onde uma me ensinou que brincar educava, a outra servia sequilhos com café coado na hora! Então tomo a rua Padre Rolim onde até um banho de leite de cabra me prepararam e onde mora a irmã-mãe mais nova que me cuidou nas dores da tese. Parada na São Gabriel onde ela fazia os salgadinhos e a gente roubava alguns no forno do fogão a lenha.
Passo pelo Asilo e desço as Cabeças pelo caminho do meio, e me lembro das cantorias de natal - a família inteira das Cabeças e do Buraco Quente! Ainda nas Cabeças, atualmente, uma Irma-mãe me acolhe nas noites frias.Chego a Água Limpa pelos caminhos detrás e aí são duas! Viva São Cosme e Damião! E aí estou diante de Nossa Senhora do Rosário. Choro de saudades Da Mãe: mais de 35 anos de convivência e amor me ensinando a manter os pés calçados - devo dizer, grata por tudo Marli Nardi Torrecilia! E caminho pela Ponte Seca e dou um pulo até a Vila São José onde entre poemas e banhos de cachoeira, as portas se abriam para um almoço domingueiro. Chego à Praia do Circo onde o pão quentinho com café é oferecido no meio da criançada! Estendo até a rua do Pilar, onde a primeira me ofereceu trabalho no Mobral Cultural, a outra me deixava dormir nos intervalos de almoço entre um Museu-escola e outro! E a casa comprida onde as crianças vinham e eu me deliciava com os lanches.
Tomo o ônibus a caminho da Bauxita não sem antes parar na Barra e abraçar uni duni trê, uma lavava minha roupa, a outra me cuidava na Prefeitura e a outra me alugou a primeira casa. Subo então o Morro do Gambá e me lembro da “Coteca” e de tantos alunos que acabo encontrando pelos aeroportos da vida, acreditem! E adentro a rua do Pró-Melhoramentos e na primeira esquina me deixo chorar de alegria por estar ali no calor do fogão a lenha, mais uma vez! Sobrevoo a cidade e paro ali na Getulio Vargas, no Passinho, onde ela me benzia e a gente dançava nos bailes da Terceira Idade! Assim como no Largo da Alegria Alice me recebia e nós comíamos sonhos deliciosos enquanto engendrávamos outros sonhos teatrais para o próximo inverno.
Grata ouropretanos, nativos e forasteiros, por tudo, por todos e pelo carinho dos momentos de alma doída e de folia! Ainda ouço ao longe o piano que clareava de lurdes as noites do Rosário! A bênção minha Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Amém!
Bete Salgado, atualmente professora de História na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, está realizando um projeto em parceria com o Museu Théo Brandão da Universidade Federal de Alagoas, em Maceió, para trocar experiências sobre o fazer pedagógico em museus, no Núcleo de Ação Educativa.