Com quase 60 anos de carreira, artista mineiro Carlos Bracher ganha retrospectiva com mais de cem obras e três ambientes interativos
Com entrada franca, público também poderá acompanhar uma performance ao vivo do pintor no ateliê criado para a exposição
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro recebe a exposição “Bracher – Pintura & Permanência”, uma retrospectiva extensa da carreira do artista plástico mineiro Carlos Bracher, entre os dias 15 de abril e 1º de junho. A mostra – que já esteve nas unidades do CCBB de Belo Horizonte e de São Paulo – ainda vai percorrer o CCBB de Brasília e a galeria do Centro Cultural Usiminas, em Ipatinga (MG). Com curadoria de Olívio Tavares de Araújo em parceria com o próprio pintor, o público poderá conhecer cerca de cem obras produzidas ao longo de quase 60 anos em atividade. Pela primeira vez, Bracher ganha uma montagem interativa, com espaço multimídia e cenografia assinada por Fernando Mello da Costa.
Mineiro nascido em Juiz de Fora, Carlos Bracher (74 anos e 57 de carreira) escolheu a cidade histórica de Outro Preto para morar e montar o seu ateliê. A mostra apresenta retratos (e autorretratos) – uma de suas marcas registradas – e as séries “Naturezas-Mortas e Marinhas”, “Paisagens Mineiras”, “Van Gogh”, “Siderúrgicas”, “Brasília” e outras obras que representam todas as fases da carreira do artista. No Rio, a exposição foi contemplada com mais 15 pinturas da série “Bracher: Tributo a Aleijadinho”, uma releitura contemporânea sobre a obra do grande mestre do Barroco realizada em 2014.
A exposição também revela um pouco da intimidade do artista em ambientes interativos que permitem a entrada dos visitantes: a reprodução do ateliê de Ouro Preto e do Castelinho dos Bracher, em Juiz de Fora, onde o artista passou a infância e a juventude. Os dois espaços são compostos por diversos objetos originais: móveis, desenhos, livros, fotos, discos, tintas, pincéis, cavalete, além de louças pintadas à mão produzidas pela Louçarte, extinta fábrica da família Bracher em Minas. “É uma representação fiel, que leva os visitantes ao meu olhar, vivenciando este ambiente que me levou ao mundo das artes”, comenta Bracher sobre a réplica da sala de estar do Castelinho.
O terceiro ambiente interativo é um espaço multimídia. Criado especialmente para a exposição, um programa de computador capta os movimentos do público e, em seguida, os reproduz em um telão branco em forma de pinceladas, que foram elaboradas a partir de vetorização de gestos e cores do próprio Bracher e gravadas previamente. O som da própria voz do artista, com textos de sua autoria, contribui para a imersão do visitante em seu universo de pintura e poesia.
O público ainda poderá acompanhar uma performance ao vivo do artista no dia 06 de maio, às 19h, no ateliê cenográfico instalado no CCBB. Bracher fará uma pintura de João Cândido Portinari, filho de Cândido Portanari. Em Belo Horizonte, o músico Lô Borges foi retratado ao vivo e o maestro Julio Medaglia, em São Paulo. Os dois quadros estarão expostos na montagem carioca.
“A exposição já retrata muito bem o universo artístico do meu pai, trazendo réplicas do ateliê e da casa onde ele cresceu e se inspirou; tocando as músicas que ele ouve enquanto pinta; mostrando os textos que ele escreve; entre outros elementos. Agora vamos coroar essa imersão com a participação ao vivo do artista em contato direto com o público, que poderá testemunhar o seu processo criativo”, destaca a filha e idealizadora da exposição, Larissa Bracher.
A responsável pelo áudio e vídeo da mostra é a jornalista e também filha, Blima Bracher, que há sete anos se dedica à pesquisa de textos e imagens, tendo assinado já dois documentários sobre Bracher: “Âncoras aos Céus”, de 2007, e “Das Letras às Estrelas: JK, de Sonhos ao Sonho de Brasília”, de 2014.
Muitas obras que compõem a mostra “Bracher – Pintura & Permanência” foram cedidas por 20 colecionadores no Brasil, incluindo a Coleção Gilberto Chateaubriand do Museu de Arte Moderna no Rio e Museu Mariano Procópio.No CCBB de Belo Horizonte, a mostra bateu recorde de público com cerca de 110 mil visitantes durante dois meses. Na capital paulista, o CCBB registrou mais de 70 mil pessoas em pouco mais de um mês de exposição.
SOBRE O ARTISTA
Aos 74 anos, Carlos Bracher, mineiro nascido na cidade de Juiz de Fora e casado com a pintora Fani Bracher, é o artista brasileiro que mais expôs no exterior, realizando exposições individuais há mais de 40 anos, em galerias e museus de Paris, Roma, Milão, Moscou, Japão, China, Londres, Rotterdam, Haia, Madri, Lisboa, Montevidéu, Santiago do Chile, Bogotá e Kingston. Sobre seu trabalho já foram publicados sete livros e realizados dezenas de filmes e documentários.
Na década de 1990 iniciou uma sequência de “Séries Temáticas”. A primeira lhe deu projeção internacional. Em 1990, Bracher percorreu os caminhos do também pintor expressionista Van Gogh realizando a série “Homenagem à Van Gogh”, com 100 telas pintadas no centenário de morte do artista, dando vazão a uma paixão de adolescência. A partir da série, o artista foi convidado a expor em importantes museus da Europa, América e Ásia. Em 1992 lança seu olhar ao mundo industrial, pintando a série Do Ouro ao Aço, sobre a siderurgia em Minas Gerais.
Na “Série Brasília”, de 2007, faz homenagem a Juscelino Kubistchek, pintando 66 quadros nas ruas e esplanadas da capital expostos no Museu Nacional, projeto de Niemeyer. Em 2012, realiza a Série Petrobras, imprimindo visão artística ao mundo industrial do petróleo. Pinta, in loco, as principais refinarias da empresa com a produção de 60 obras, entre pinturas e aquarelas.
Em 2014, data dos 200 anos da morte de Aleijadinho, acaba de realizar a série “Bracher: Tributo a Aleijadinho” que faz uma releitura contemporânea sobre a obra do grande mestre do Barroco. Atualmente uma retrospectiva com 50 quadros, produzidos entre 1961 a 2006, percorre diversas cidades européias já expostas no Museu de Arte Contemporânea de Moscou, Frankfurt, Praga, Estocolmo, Bruxelas, Bruges, Basilea, Dusseldorf, Luxemburgo e Gotemburgo.
CRÍTICAS NACIONAIS
"Encontrei-me com Minas Gerais através da pintura de Carlos Bracher. É o maior elogio que, de coração, lhe posso fazer. Viva Minas."
Carlos Drummond de Andrade
“A Bahia vai finalmente conhecer e amar a obra de um dos grandes da pintura brasileira contemporânea. Mineiro de Juiz de Fora (em sua pintura, o poeta Carlos Drummond reencontra Minas), paisagista incomparável, retratista de força indômita (“A tua mão, pintor, e a fúria tua pincelando meu rosto” – canta Affonso Romano de Sant’Anna num poema sobre a pintura de Carlos), autor de naturezas-mortas onde violinos, as flores e os jarros se harmonizam na cor de Ouro Preto, ouro e sangue misturados. Que dizer desse mestre brasileiro? (...)”
Jorge Amado
“(...) Inquieto por temperamento, Bracher não usa de cautela e cuidados para realizar seus quadros. Joga-se neles, seguro de seu domínio técnico, num mergulho definitivo, de que pode ou não resultar a obra satisfatória. Se não resulta, apaga tudo e começa de novo, com o mesmo ímpeto, movido pela necessidade de colher a beleza no mesmo momento em que ela, fustigada, emerge à luz (...)”
Ferreira Gullar. Livro “Bracher”, 1989
CRÍTICAS INTERNACIONAIS
"Carlos Bracher, pintor brasileiro de 30 anos, bem conhecido em seu País, vivendo em Paris há pouco tempo, encontrou na arquitetura dos grandes telhados inclinados de “Honfleur”, e na catedral de “Chartres” uma fonte fecunda de inspiração. Seu estilo severo e despojado nada sacrifica à moda; formas simples e rudes ao mesmo tempo esguias e pesadas, um cromatismo sombrio limitado ao azul e ao verde se aplicam à árvore e à pedra que uma luminosidade lunar vem sublinhar”.
Geneviève Breret. “Le Monde”. Paris, 1970
“(...) Vindo diretamente de um país do sol é este artista seduzido pela luz tamisada e doce da lle-de-France, pela poesia rigorosa de suas catedrais. Deste amor intenso, brotou uma série de quadros dominados pelos azuis dos vitrais, o cinza, o preto, o branco da pedra. Sua obra, ao mesmo tempo discreta e forte reflete uma realidade conduzida às suas dimensões essenciais, se exprime em grandes ‘aplats’ vigorosos, quase severos, procura uma verdade despojada dos adornos do estilo flamboyant. Carlos Bracher é um pintor austero, cheio de intransigências diante dos efeitos fáceis, dizia Cristiano Lima, jornalista português. É defini-lo muito bem. Sua austeridade seduz pela transposição sobre a tela das grandes obras da arquitetura francesa, sabendo ao mesmo tempo respeitar as dimensões humanas”
Francine Poirier. “Le Figaro”, Paris, 1970
“(...) Através de suas telas sobre a Catedral de Chartres ou os telhados de Paris, adivinha-se o gosto pela pureza das linhas que sobem para o céu e que dão ao conjunto um rigor grave, que descambaria para a rigidez se ele não utilizasse toda uma gama de azuis e verdes (caros a Cézanne) que modulam o todo.”
Monique Dittière. “L’Aurore”, Paris, 1970
SERVIÇO – EXPOSIÇÃO “BRACHER – PINTURA E PERMANÊNCIA”
Realização: Ministério da Cultura
Produção: Larissa Bracher Produções Artísticas
Curadoria: Olívio Tavares de Araújo
Cenografia: Fernando Mello da Costa
Patrocínio: USIMINAS
Copatrocínio: CBMM; Brasilcap, por meio do seu produto Ourocap; BDMG
Incentivo:
Lei Federal de Incentivo à Cultura; Lei Estadual de Incentivo à Cultura-MG
De 15 de abril a 1º de junho de 2015
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro
Rua Primeiro de Março, 66 - Centro
Classificação etária: livre. Entrada Franca.
06 de maio, às 19h - Pintura ao Vivo
Classificação indicativa: livre. Entrada franca.
Retirada de senha 1 hora antes do evento
O retratado será João Cândido Portinari
Dia 15/04
Bate-papo com o artista Carlos Bracher
Às 18h, no auditório no 4º andar
Capacidade: 64 lugares. Entrada franca
Palestra do curador Olívio Tavares de Araújo
Às 19h, no auditório no 4º andar
Capacidade: 64 lugares. Entrada franca