Viemos através desta carta de repúdio, explicitar os acontecimentos da madrugada do dia 19 para 20 de fevereiro.
Duas de nossas moradoras foram agredidas na república Pif Paf fisicamente por um ex-aluno da mesma, durante a formatura de um amigo, agora também ex-aluno da casa. Antes do ocorrido, o agressor já havia assediado a Marcelle, tentando beijá-la à força. Não satisfeito com o primeiro NÃO, começou nos rodear pela boate da casa, nos intimidando. Enquanto ela nos comunicava o fato, ele estava em cima de uma terceira moradora (Mariana) e começou a assediá-la também. Ele a segurou pelo braço com força e não a soltava. Mariana, num ato de desespero, mordeu a orelha dele, então ele a empurrou pelo pescoço. Nara e a Marcelle foram acudir a moradora, em consequência levaram um soco no queixo (Nara) e outro no olho (Marcelle). É importante ressaltar que o cara é lutador de Jiu Jitsu em BH. Foram logo acudidas por amigos e levadas para a delegacia, enquanto o autor quebrava a casa inteira afastando todos que poderiam segurá-lo.
Elas foram para a delegacia da polícia civil, mas infelizmente esse tipo de conduta ainda é tratado de maneira despreparada,pois por mais que exista uma sessão dentro da polícia civil que trara especificamente desses casos , não exista uma delegacia da mulher , não é algo que funcione a todo momento ou tenha algum tipo de divulgação . Iremos contactar para que possamos ter o amparo necessário para saber como conduzir todo esse processo. Esse caso não se enquadra em Maria da Penha, por não possuirmos nenhum tipo de vínculo com o agressor e será tratado como lesão corporal leve. Estamos agindo conforme a lei e faremos tudo ao que estiver ao nosso alcance.
Agradecemos por todo apoio que temos recebido, tanto de amigos, quanto de pessoas que não conhecemos, ex alunos da UFOP, republicas federais e particulares em geral, das mulheres unidas da UFOP, e inclusive dos moradores da Pif Paf, que já repudiaram o agressor e estão fazendo o que está ao alcance. Neste momento temos que nos unir para dar fim a esse tipo de ato, que infelizmente estamos sujeitas a passar em qualquer tipo de ambiente, mesmo dentro da casa dos nossos próprios amigos. NINGUÉM merece passar por isso, e esse tipo de situação, esse machismo, já passou da hora de acabar.
Felizmente não tivemos complicações maiores e temos interesse em continuar com assembleias e conversas com todos os interessados para que possamos tirar todas as dúvidas e sabermos como agir caso isso aconteça novamente. Esse foi a primeira denúncia de agressão física contra mulher dentro do ambiente republicano. Não podemos e não vamos nos calar sobre esse machismo escroto, que faz com que uma mínima ação, tenha uma reação inacreditável. O assédio moral e sexual é algo cotidiano na nossa sociedade, são vários os casos de mulheres que sofreram agressão por recusar a investida de agressores. Não existe desculpa para esse tipo de ato, principalmente da forma como ocorreu. Nos comunicaram que ele está procurando ajuda em tratamento psicológico e que não se recorda dos acontecimentos, mas aconteceu com a gente: nós lembramos!!!!! O que aconteceu, ainda dói, não só a dor física, principalmente a moral. Ele invadiu o nosso espaço de várias formas além da porrada na cara. Isso se chama falta de caráter, saber que no Brasil sair impune é algo fácil e se aproveitar disso. Se chegou nesse ponto de socar a cara de duas mulheres no meio de uma festa, é por que já é algo natural dele usar da violência para resolver as coisas e ISSO não tem desculpa. Desde o começo ele destratou de todos, inclusive do formando, que prestou queixa de danos materiais contra o agressor.
Contamos com o apoio de todos e que esse ato sirva de exemplo e transmita coragem para as agredidas e punição para os agressores! CHEGA!
Muitos ao lerem este relato irão tirar suas próprias conclusões, dentre elas, vincular a violência contra mulher ao meio republicano. O equívoco aqui é simplificar o inimigo, a vida nas republicas é mero reflexo da sociedade (machista e opressora) em que ela está inserida. A falha do sistema é que em algum momento a concepção de hierarquia deixou de ser ” ter mais responsabilidade” para se tornar poder, ex-aluno vem para Ouro Preto achando que pode fazer o que bem entender, desde colocar o som na altura que quiser, quebrar a casa, humilhar seus “inferiores” e em casos extremos bater na cara de quem quiser e temos que resgatar a verdadeira essência republicana. Em contrapartida esse vínculo republicano proporciona uma espécie de justiça e amparo que nem o sistema penal trouxe. República é como uma segunda família, e se não fosse o apoio que nós estamos tendo de moradoras, ex-alunos, amigos republicanos, jamais teríamos meio de resolver esse problema da forma mais eficaz possível.
DE ACORDO COM O LEVANTAMENTO DA SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA MULHERES DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DOS 52.957 RELATOS DE VIOLÊNCIA EM 2014 51,98% SÃO DE MULHERES AGREDIDAS POR SOCOS ,TAPAS, PONTAPÉS,QUEIMADURAS ENTRE OUTROS.
Gostaríamos de convidar todas as mulheres para participar de uma reunião que será promovida na REBU. Estamos buscando ajuda para conduzi-la da melhor maneira possível e assim que tivermos uma data, iremos comunicar oficialmente, pelo facebook.
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