Veja o vídeo sobre a História da Casa da Ópera - https://www.youtube.com/watch?v=wHFvNNxlonA
Publicado em 20 de jan de 2015
28/12/2014 - Localizada no largo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a Casa da Ópera da antiga Vila Rica segue a tipologia dos teatros públicos portugueses setecentistas. Seu construtor e primeiro proprietário, o contratador português João de Sousa Lisboa, inaugurou a obra em junho de 1770, em homenagem ao aniversário do então rei de Portugal, D. José I. O poeta Cláudio Manoel da Costa colaborou para o surgimento da Casa da Ópera e em seus primeiros anos de funcionamento foi um dos assinantes dos camarotes, bem como outros participantes da Inconfidência Mineira. Por falta de espaços públicos disponíveis naquela época, o teatro acabou se tornando um ponto de encontro dos simpatizantes do movimento com os inconfidentes, que utilizavam também o local para recitarem os seus poemas.
No áureo período do século XVIII, em que Vila Rica transformou-se num efervescente centro sociocultural da Capitania de Minas Gerais, a Casa da Ópera recebia, semanalmente, espetáculos diversificados, incluindo óperas, oratórios e comédias. Rosana Marreco Brescia, em sua pesquisa sobre teatros públicos setecentistas em Minas Gerais, para tese de doutorado na Universidade Sorbonne, na França, revela que o repertório apresentado, tal como nos teatros públicos de Lisboa, era composto, sobretudo, de obras traduzidas do teatro italiano, francês e espanhol e adaptadas “ao gosto português”, incluindo personagens cômicos à trama. O texto teatral era declamado, intercalando-se as falas com trechos musicados de árias, duetos e coros cantados de autoria de compositores locais ou extraídos de óperas italianas. O viajante francês Auguste de Saint-Hilaire assistiu a uma dessas apresentações e escreveu sobre a pouca qualidade das pinturas do pano de boca representando as quatro partes do mundo e sobre as variadas decorações internas existentes na Casa da Ópera. Ali, as mulheres atuaram pela primeira vez num palco no país, numa época em que os papéis femininos eram interpretados por homens; e o primeiro baile de carnaval realizado na cidade também teve lugar naquela sala, em fevereiro de 1857. A Sociedade Dramática Ouropretana, em 1861, reitera um pedido anterior para a inadiável recuperação do antigo teatro que se encontrava bastante degradado, ocorrendo, então, uma significativa remodelação da casa; e outras modificações seriam feitas até o final do século XIX.
Alterou-se a fachada frontal, que passou a ter empena triangular com elementos decorativos ao gosto neoclássico vigente, encimada por ornato central em forma de lira com folhas de acanto; posteriormente, incorporou-se o óculo superior quadrilobado, acima dos vãos das três portas de verga em arco abatido; todos emoldurados em pedra. Internamente, modificou-se a estrutura dos camarotes, com a retirada das separações existentes entre eles, aumentando a capacidade da casa para cerca de 400 lugares distribuídos em três andares, onde ficam as frisas e plateia no 1º piso, os camarotes no 2º piso e as galerias no último piso. Além disso, os guardas-corpos passaram a ser de ferro fundido, o forro adquiriu a forma abobadada, o piso da plateia ficou em declive, instalou-se um novo pano de boca representando a paisagem do Pico do Itacolomi e o arco do proscênio recebeu novas pinturas decorativas. Apesar dessas intervenções, o teatro conservou sua ótima acústica e sua peculiar espacialidade, pois importantes características originais foram mantidas, como o formato estreito e alongado da sala, típico dos chamados “teatros-corredores”, em forma de lira, de influência italiana, com curvas e contracurvas. O espaço reservado aos músicos da orquestra permaneceu e os camarins ficaram abaixo do palco italiano, com acesso por escada de madeira e pelo alçapão frontal.
A partir do final do século XIX, os costumes se modificam e a chegada do cinema traz consequentemente a redução da frequência nos teatros. No entanto, ressalta-se o papel desempenhado pela antiga Casa da Ópera como um espaço de representação privilegiado, palco de eventos da maior importância dentro da história artístico-cultural da então capital mineira. Ao adentrar o “teatrinho barroco”, como é afetuosamente chamado o Teatro Municipal de Ouro Preto, a antiga Casa da Ópera de Vila Rica, pode-se sentir a ambiência barroca que remete aos seus espetáculos inaugurais e perceber que se trata de um monumento de grande valor histórico, arquitetônico e artístico, um raro e admirável integrante do conjunto urbano reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade.
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