Lá pelos anos 40 a casa onde hoje existe o Museu Casa dos Inconfidentes estava em ruínas, totalmente abandonada e, sendo assim, ali se instalou um mendigo chamado Zé Canivete. Ninguém se importou pelo fato de ele estar ocupando aquela casa velha e lá ele viveu por um bom tempo. De dia saía para esmolar e voltava, à tardinha, para descansar.
Uma noite fria, não tendo lenha para acender o fogo, Zé Canivete cortou uma porta velha da casa para queimá-la. Ao rachar a porta ao meio ele viu surpreso, que de dentro saltaram muitas moedas de ouro.
A partir deste dia, ele passou a pagar com ouro pelo prato de comida, pelo cigarro e pela pinga que bebia. Sem condições para usufruir da fortuna que encontrara, ele acabou enlouquecendo.
Anos mais tarde essa casa sofreu uma boa reforma e passou a ser administrada pela Prefeitura de Ouro Preto. Nela morou uma família que tinha vários empregados, entre eles uma cozinheira com sua filha Petronília, de uns dez anos.
Um dia, a menina brincava de casinha, com outra criança da família, no porão da casa. Ao arrumar sua casinha, as meninas precisaram de um pedaço de madeira para servir de mesa. Procuraram por toda parte e acabaram vendo um toco enfiado numa das vigas de madeira que sustentavam a casa. Ele era do tamanho exato que precisavam. Elas tentaram, de todas as maneiras, tirar aquele pedaço de pau e, quando conseguiram, perceberam que havia ficado um buraco. Olhando curiosas lá dentro, viram um papel enrolado em meio a pedaços de carvão e cascas de arroz. Tiraram o rolo de papel e observaram que ele estava meio amarelado. Desenrolaram o papel e viram desenhos e escritos que não puderam ler. Pressentindo estarem diante de algo importante, as duas correram até a cozinha, levando o misterioso papel para mostrar à mãe de Petronília.
A mulher começou a ler. Pelo que foi possível entender, era a indicação de um tesouro, com desenho mostrando o local onde ele estava escondido. Parecia ser coisa muito antiga. Imediatamente, a mulher levou o precioso papel para seu patrão. O homem deu pulos de alegria ao ler o conteúdo daquele documento. O tipo do papel, a cor já amarelada pelo tempo e a forma como foi encontrado, protegido da umidade, eram indícios de sua autenticidade. O homem comprou balas e biscoitos para as meninas, tão feliz ficou com sua descoberta. Estudou o texto e localizou, pelo desenho, uma mina na parte lateral da casa.
A mina tinha um portão de ferro. Entrando nela ele viu, nas paredes, as marcas de dedos dos escravos no reboco. Reboco feito de estrume de animal misturado no barro. Lá dentro, encontraram mesa de pedra, pedras servindo de banco, coisas assim. Acharam muitos cacos de louça, canecas, cachimbos e até um tachinho de cobre perfeito.
Como aquela casa era da Prefeitura, as autoridades poderiam implicar se vissem as pessoas mexendo na mina, então, o homem decidiu trabalhar à noite, no que foi ajudado por todos da casa.
Durante o trabalho noturno, eles viam luzes andando dentro da mina. Seria a Mãe do Ouro? Perto da boca da mina, tinha uma gameleira muito antiga. Tinha cobra também, por isso chamaram um homem para benzer. Podia ser cobra mandada. A inveja faz cada coisa!
Algum tempo depois, aquela família já havia tirado muita terra de dentro da mina e havia apenas três metros para alcançar o local assinalado no mapa, quando aconteceu o pior. Um dos frequentadores da casa, sabedor dessa busca noturna ao tesouro, contou tudo ao prefeito, Washington Dias.
O prefeito, querendo fazer um flagrante, foi até o Morro da Forca com um binóculo e ficou espiando na direção da Casa dos Inconfidentes. Tarde da noite, ele viu quando o homem, ajudado por seus familiares e empregados, tirava terra da mina.
No dia seguinte, bem cedo, chegou uma comitiva para expulsá-los da casa. Deram-lhes apenas vinte e quatro horas para sair. Sua esposa ficou tão furiosa que queimou o precioso documento. Se não podiam ficar com o tesouro, ninguém mais o encontraria! Assim terminou o sonho daquela família de encontrar um grande tesouro.
Tenho outra história surpreendente acontecida nesta mesma casa.
Depois da saída desta família da casa ela foi ocupada por outra composta de mulher, marido e um filho.
Uma noite, a mulher pediu ao filho que fosse à rua comprar cigarro. Ele não queria, pois a casa era afastada e o caminho escuro. Tinha medo. Mas ela insistiu que ele fosse por uma trilha que cortava o caminho. A lua estava clara e era possível enxergar à noite. Depois de muita insistência, o menino foi.
Sozinha em casa, arrumando algo na cozinha, a mulher ouviu passos fortes de alguém com botas vindo em sua direção. Os passos retumbavam no assoalho de madeira. E eis que surge à sua frente um alferes de cavalaria com botas, casaca e espada.
- “Eu sou José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes. Deixei um tesouro enterrado aqui há mais de 200 anos e por isso não tenho sossego. Vou mostrar à senhora onde está. É logo ali na porta onde há uma mina escondida” disse o alferes indo em direção à porta. A senhora, que a estas alturas já estava muda de tanto medo, caiu desmaiada.
Só acordou quando seu marido e o filho, com o maço de cigarros na mão, se debruçaram sobre ela tentando acordá-la. Ela, então, contou tudo o que se passara. Os dois não lhe deram crédito. Pensaram que ela estava alucinando por medo de ficar sozinha.
O povo, ao tomar conhecimento do fato, para a casa se dirigiu com pá e picareta, cavando por todo lado na alucinação de encontrar o tal tesouro. Foi preciso ação enérgica por parte da Prefeitura e do Patrimônio Histórico para preservar aquela casa que um dia foi do inconfidente Álvares Maciel, da sanha destruidora dos caçadores de tesouros. Hoje, felizmente está restaurada e muito bem cuidada como Museu Casa dos Inconfidentes.
Foto divulgação: Museu Casa dos Inconfidentes