Sempre fui a patricinha entre os hippies e a hippie entre os mauricinhos.
E sigo me equilibrando nesta corda.
Antes buscava os holofotes. Hoje prefiro as sombras.
E adoro as sombras do cinema no Fórum das Letras.
O símbolo flutuando por sobre nossas cabeças.
No palco, a eterna discussão sobre fronteiras entre ficção e não-ficção; realidade e simbolismo; verdade, veracidade e verossimilhança.
O jornalismo é, ou não, literatura?
E me transporto aos tempos da Fafich, onde me parece que discutimos a mesma coisa do primeiro ao último dia de aula.
Pirâmide invertida e etc...
Mas adoro a sonoridade daquelas palavras e como cada ator se coloca perante o tema: escritores, jornalistas, literatos, romancistas, poetas. Todos discorrendo saborosamente com seus argumentos (sempre carregados de certeza) sobre estas fronteiras filosóficas.
E seguem fazendo teses e ensaios e enchendo nossas vidas com essas questões, tão complicadas quanto o sexo dos anjos.
Não quero saber quem tem razão.
Quero apenas escutá-los discorrendo literariamente sobre estes assuntos. Flanando no espaço com seus pontos e vírgulas, traços e travessões.
A dança dos microfones, as pausas para a água, a mediação precisa e preciosa.
Gosto do jogo teatral desses literatos e suas falas repletas de citações, capítulos, versículos e idiomas diversos.
Alguém citou o verbo "oublier" e viajei na letra:
"Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment"
E falaram deliciosamente aos meus ouvidos, como uma avó lê um livro de histórias para o neto.
Como são extrovertidos!
Como tomam o microfone com destreza e propriedade!
E eu fico ali olhando. Secretamente interagindo com eles.
Falar, não me atrevo. Mas escrevo.
Como estou escrevendo agora.
Será que os químicos discutem o sexo dos átomos?
Blima Bracher
Jornalista/ Documentarista
(31) 8431-3737