As impressões sobre pedras e pigmentos do Quadrilátero Ferrífero estão impregnadas na alma da mineira Fani Bracher. Há 44 anos a artista reside em Ouro Preto, tendo explorado a beleza silenciosa das paisagens e das minerações, dos ossos e dos resíduos orgânicos e minerais. Agora, busca no fundo dos rios, nas cores e cintilâncias pueiris o substrato para compor sobre lonas, telas e objetos .
O choque da paisagem árida e inóspita da região de extração mineral das Minas Gerais teceria impressões profundas sobre a alma da artista. Natural de Coronel Pacheco, Zona da Mata mineira, Fani passa sua infância cercada por paisagens rurais, o verde profundo e vida abundante.
O destino, entretanto a levaria para outras terras, as terras hostis e pedregosas da mineração. Impressões difusas e diversas de sua realidade marcariam para sempre sua arte, antes impregnada de conjuntos de árvores, amarelos e verdes.
A vegetação agora é escura, aparada por negrumes e formas geométricas, brotando, vez ou outra uma flor em meio ao cinza. Misto de amor profundo e repulsa que pulsa em suas telas, como gritos de desespero, neste incongruente encontro de habitats. Outro universo se abre, de forma abrupta e perene, maculando para sempre sua vivência.
A inspiração brota nas telas como forma de reorganizar seu universo interno, agora povoado por minérios e horizontes fúnebres. Os ossos aparecem como tema, numa busca por antecipar a finitude da existência.
O equilíbrio volta em sua fase de criação contemporânea. A calmaria de folhas das pastagens verdes dialogam com pedras e pigmentos, agora plenos de sentido e acolhimento. O reencontro de realidades, aparentemente opostas. A beleza que flui, a inspiração que fica.
Os resíduos de mineração nos rios se misturam às pedras virgens e intocadas. Decantada no fundo das águas esta matéria inorgânica e inerte ganha movimento com as corredeiras e redemoinhos, refletindo partículas multicores que aos olhos da artista se transformam em obras, ora singelas, ora ruidosas. O resultado é um trabalho forte, porém maduro e mais suave, nas mãos de Fani.
Blima Bracher
Jornalista/ Documentarista
(31) 8431-3737