Angela Leite Xavier
As casas, muros, ruas, objetos, tudo trás em si a essência de sua existência. Se são muito antigos têm mais vida, mais memórias.
Ouro Preto tem fantasmas nas ruas, nas casas de pau -a- pique e madeira construídos há mais de 300 anos. Também tem fantasmas nas igrejas que abrigaram fiéis temerosos do fogo do inferno, nas antigas minas que jorravam ouro gerando riqueza e miséria. Nas pontes de pedra, rios e córregos, nas pedras que foram a base das construções e calçamento das ruas. Também os chafarizes, únicas fontes de água para lavar e cozer.
Todos esses lugares estão impregnados das emoções que já foram vividas ao seu redor ou no seu interior. Por isso, quando todos dormem as madeiras rangem, as cortinas balançam mesmo sem vento, passos se ouvem pelas tábuas do assoalho ou pelas escadas. Bocas sussurram, falam, riem, choram. Luzes se acendem e se apagam sozinhas, portas se fecham e se abrem, ouve-se batidas de tambores, arrastar de correntes, gemidos. A escuridão da noite é palco do desconhecido.
Pelas ruas trotam cavaleiros batendo os cascos dos cavalos nas pedras do calcamento. Padres celebram missas para as almas, igrejas se iluminam. Belas jovens vestidas de branco passeiam pelas calçadas seguidas por jovens notívagos, enamorados que se assustam quando descobrem que sua morada é um cemitério.
Carruagens correm pelas ruas levando poetas inconfidentes, o próprio alferes aparece indicando o local de um tesouro escondido. Guardiões das minas espancam aqueles que ousam se aprofundar no seu interior profanando seus mistérios. Procissões fantasmagóricas desfilam pelas ruas, com velas acesas e vozes agudas recitando ladainhas.
Cada parede de pau-a-pique que dá lugar a uma de concreto, cada pedra do calçamento que é substituída, cada árvore que é cortada leva consigo sua memória, empobrecendo as histórias e mistérios da cidade.
Por isso, meus amigos e meus inimigos, deixemos tudo nos seus lugares e salvemos os fantasmas de Ouro Preto!
Foto Eduardo Tropia