Profissionais do coletivo I Hate Flash expõem em imagens a força do feminino
O Dia Internacional das Mulheres está chegando e, como maneira de mostrar as várias facetas e investigar o que é ser mulher na nossa sociedade, as fotógrafas do coletivo I Hate Flash realizaram um ensaio de autorretratos. Elas saíram detrás das câmeras e foram para frente para revelar como se sentem diante das pressões diárias, em meio a uma pandemia, e colocaram em imagens sentimentos que muitas vezes ficam trancados. O resultado foram imagens cheias de significado e força.
Laís Aranha
Artista, fotógrafa, operadora de câmera e diretora de fotografia há onze anos. Começou na aventura de criar imagens como forma de navegar no mundo e conhecer pessoas, lugares, ouvir e contar histórias.
Autorretrato: “O exercício do autorretrato é uma oportunidade de me vincular comigo, pensar no dilema da autoimagem, de como quero ser vista, como pensamos que nos veem e como queremos que nos vejam. Gosto de trabalhar isso para me colocar no lugar daqueles que fotografo e é doido perceber quanta vulnerabilidade existe do outro lado da câmera. É importante saber como a imagem bate em cheio em cada um. Para essa foto, deixei uma lente analógica antiga na frente da minha câmera digital, ajustei o foco e me coloquei ali na frente das duas lentes, em uma noite de estudos durante a pandemia”.
Julia Assis
Carioca, fotógrafa, carnavalesca, body positive. Apaixonada por lentes fixas, sombras, janelas e banheiros fotogênicos. Usa o ensaio fotográfico como ferramenta para ajudar as pessoas a verem com novos olhos, a se permitirem e se aceitarem mais.
Autorretrato: “Gosto de trabalhar, principalmente, com aceitação do corpo então o nu e o autorretrato sempre foi parte do meu processo artístico. Tento usá-lo como para sair da minha zona de conforto. Esse foi especialmente difícil porque, apesar da pandemia já estar fazendo aniversário, nas últimas semanas testei positivo para a Covid, mas sem sintomas. Foi a primeira vez que fiquei totalmente confinada no quarto, em poder sair nem para o essencial. O autorretrato veio como uma maneira de sair um pouco e testar um processo de edição novo, com dupla exposição”.
Anette Alencar
Pernambucana que mora no Rio de Janeiro há dez anos. Trabalha com fotojornalismo, registro de performances artísticas, fotografia de eventos e pré-estreias audiovisuais.
Autorretrato: “Esse autorretrato, que chamo de ‘Onde enterrar palavras que morrem na ponta da língua’ é um processo de investigação e costura sobre a minha história e da minha mãe, que morreu no dia que nasci. Ao entrar na banheira fiz um paralelo com a relação de enterrar algo, mas na água, que traz fluidez para tudo”.
Helena Yoshioka
Fotógrafa e artista, pesquisa diferentes formatos de mídia, seus limites e potencialidades. Faz parte de projetos que abrangem temas como identidade, ancestralidade, feminismo e política.
Autorretrato: “Esse autorretrato surgiu durante um movimento de aceitação de memórias e lembranças antigas, em que entrei em um movimento obsessivo em relação ao passado na esperança de recuperar os fragmentos e histórias que tinham me passado despercebidos”.
Tainá Félix
Produtora cultural e do setor audiovisual. Realiza cursos de cinema e é fotógrafa, trabalho em que usa câmeras para expressar seus sentimentos e visão do mundo.
Autorretrato: “A inspiração desse autorretrato foi o fim da minha menstruação. Uma vez por mês tem lua cheia no céu e lua cheia aqui dentro. Uma vez por mês o útero descama e o corpo sente fora. Durante essa fase lunar muita coisa acontece. Os seios doem, o humor muda e o choro vem. Processo que se repete, mas nunca é o mesmo. O meu corpo fala, estou aprendendo a ouvir.”.
Anne Karr
Diretora de fotografia, criativa de conceito e desenvolvimento de imagem.
Autorretrato: “Não sou muito adepta doa autorretratos porque é difícil abrir a escuta para nós mesmas, como mulheres. Se colocar na frente da câmera é mesmo se enxergar e criar algo imagético que passe a grandeza e diversidade que habitam em nós. O papel alumínio que tem dois lados, o fosco e brilhante, muito utilizado na cozinha, local muito significativo onde por muito tempo a sociedade machista designou ser o lugar de uma mulher, na minha foto entra como objeto de quase coisificação, tampando minha boca, minha fala, me fazendo quase que uma só com a parede da minha casa, porém, vale aqui ressaltar, os olhos continuam fixos e atentos, quase desafiadores. Esse autorretrato também foi feito no contexto da quarentena, mas é incrível a experiência que oferece. É como se fosse quase impossível esconder qualquer inconsciente quando a lente te desnuda. As mensagens que existem dentro de nós cabem muitas óticas. Temos muito o que contar”.
Clarissa Ribeiro
Diretora, montadora e artista visual. Atua desde 2017 no I Hate Flash como diretora, editora e produtora de conteúdo e trabalhou com marcas como Nike, Adidas, Coca Cola e Stella Artois.
Autorretrato: “Autorretrato que é selfie que é retrato. Minha intenção nesse experimento foi tensionar os limites entre realidade e virtualidade, alargar o que sou eu, o que é minha autoimagem e o que eu quero que as pessoas acessem de mim. A iluminação magenta vem para trazer uma certa aura de misticismo e magia, para lembrar-nos sempre de prestar atenção no nosso lado espiritual e não sucumbir às perversidades dos padrões de beleza hegemônicos que o capitalismo impõe sobre nossos corpos e desejos”.