A Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo foi fundada em 1753. Sua primeira reunião realizou-se na Capela de Santa Quitéria, na freguesia de Nossa Senhora do Pilar, no dia 4 de dezembro. De início, suas atividades eram coordenadas na capela desta corporação, que se encontrava em ruínas. Não demorou muito até que as irmandades entrassem em um acordo e a Ordem incorporasse a irmandade de Santa Quitéria.
O início da construção de seu templo se deu em 1767. O douramento dos altares laterais, os dois púlpitos e o douramento do frontão do corpo da Igreja pertencem a Manoel da Costa Ataíde. As obras foram concluídas por volta de 1840.[1]
A Ordem Terceira do Carmo reunía os homens brancos, ricos comerciantes da região, em geral. De todas as irmandades mineiras, ela se destacou como a mais rica e próspera, possuindo vários escravos a seu serviço (houve casos em que estes eram entregues à Ordem como pagamento de dívidas).[2] Além disso, a irmandade emprestava dinheiro a juros, não só aos irmãos de corporação, como a particulares e ao próprio governo; funcionava, desta forma, também como casa bancária. A amplitude desse status e os embates pelo reconhecimento social são perceptíveis nas rivalidades que nutriam entre si as ordens terceiras do Carmo e de São Francisco de Assis - e este não é um fenômeno particular à Vila Rica. As duas corporações travaram batalha jurídica acerca da precedência em procissões, que se estendeu por um longo tempo. Segundo o direito canônico, o primeiro lugar nas procissões era reservado às ordens terceiras, e ambas pleiteavam tal direito. Foram gastos trinta anos em demandas e apelações sucessivas para se definir tal pendência (colocar quem ganhou).[3]
Este espírito de concorrência também em muito contribuiu para a grandeza arquitetônica de suas igrejas. De fato, o início da construção de um templo despertava na outra ordem o desejo de constuir um que lhe suplantasse em beleza e suntuosidade. As igrejas correspondentes às duas irmandades situadas em Mariana constituem um rico exemplo. Dispostos nas proximidades da Câmara Municipal, os dois templos ainda concretizam uma arquitetura voltada para estreitar uma conexão, um diálogo entre as orlas do poder. Transversais entre si, os três edifícios formam um triângulo, um forte símbolo entre a religião e a política representativa. Foi devido a esta tipologia de setores econômicos que a formavam que a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo resistiu à decadência que se abateu sobre a maioria das irmandades em fins do século XVIII, uma das consequências do abalo social sofrido pelo declínio da extração aurífera, que fez com que a partir do século XIX a região de Ouro Preto perdesse o seu estauto de centro das atividades econômicas e conhecesse significativa evasão populacional.
[1] MENEZES, Joaquim Furtado de. Igrejas e Irmandades de Ouro Preto. Belo Horizonte: IEPHA/MG, 1975. p.63
[2] SALLES, Fritz Teixeira de. Associações religiosas no ciclo do ouro. Belo Horizonte: Universidade de Minas
Gerais, 1963. P.55