Orgulho Vira-lata
Não sou da polêmica, muito antes pelo contrário, aprendi com meu pai a ser infinitamente complacente com as escolhas alheias.
Mas queria aqui dar espaço ao exercício da dialética. Contrariando a mim mesma, e me assumindo como mais uma pentelha a meter o bedelho na opinião dos outros.
Preguiça desta patrulha ideológica de quem critica as cores no Facebook. Primeiro porque, como bem disse Públio Athayde, a moda se espalhou no Face porque é um recurso deste site norte-americano e não criamos este mesmo recurso do arco-íris aqui na época da decisão do STF, a favor do casamento gay no Brasil. Quem é tão purista deveria então sair do Face, já que é uma invenção norte-americana...
Semana que vem este assunto já fedeu, mas colori minha foto não só por apoiar a causa, mas porque acho lindo o recurso da massa. Às vezes é bom deixar o ego de lado e simplesmente se misturar na multidão. Ter que ser único e criativo sempre dá tanto trabalho... A bandeira do arco-íris está aí, é um símbolo mundial, e gosto de anular minha individualidade debaixo dela para ser um ente maior e mais potente contra as injustiças. Somos unos, gritando a uma só voz.
Pior que quem critica a falta de criatividade é quem ofende quem aderiu às cores, dizendo que não basta colorir o Face, tem que dar... Aí é pra mandar à "M" mesmo.
Não aderiu, fica quieto no seu canto. Não venha destilar em mim seu veneno homofóbico. É mais elegante e discreto. Pra muita gente isto passou até em branco. Aliás, preto e branco me agrada também.
E, mais uma vez vem à tona esta expressão antiga: "brasileiro tem complexo de vira-lata". Pode parecer banal, mas, às vezes as pequenas coisas mostram grandes mudanças. Basta ver o top 10 de qualquer canal de música. Na época da MTV, das dez bandas em primeiro, dez eram estrangeiras. Hoje, o top 10 está recheado de sertanejo, axé, funk, forró e rock, tudo nacional. Porque mesmo pra quem torce o nariz, o Brasil é sertanejo sim, funkeiro e Chicletes com Banana, com muito orgulho.
Tudo bem que as insatisfações mais doídas costumam se encerrar nos fins de semana, na mesa do bar. "Aí eu me afogo num copo de cerveja, nela esteja a minha solução." Mas tomar cerveja ou pinga pode ser bálsamo pra quem pega ônibus todo dia e ganha salário mínimo. Se salário mínimo comprasse vinho, tomaríamos vinho, mas nos viramos como podemos, virando as latas.
Aliás, queria deixar registrado o meu orgulho em ser vira-lata. Somos mestiços, coloridos, de diversas pelagens e tamanhos. Somos fortes, guerreiros e sobreviventes. Sem raça definida, o que fez de nós uma nação plural e linda. Vira-lata se vira, vira-lata, vira homem, vira lobisomem, bailam, corujas e pirilampos..
E tenho dito. Pronto, falei.