OURO PRETO PERDE UM AMIGO

         CERTA VEZ LI UM ARTIGO DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE NO JORNAL DO BRASIL DIZENDO COMO ERA DIFÍCIL FALAR SOBRE ALGUM CONHECIDO OU AMIGO QUE MORREU.

        QUANDO ESSE IMPREVISÍVEL  FENÔMENO DA NATUREZA ACONTECE, É COMUM LER E OUVIR AS PESSOAS ENALTECENDO AS QUALIDADES DA PESSOA QUE FOI. FALA-SE TUDO, ARRANJAM-SE ELOGIOS E QUALIDADES QUE O FALECIDO PODIA ATÉ NÃO TER. “FORÇA”, “NOSSA SOLIDARIEDADE”, “ERA SEM DEFEITO…”, “VAI FAZER MUITA FALTA!”…, “INSUBSTITUÍVEL”…

        QUANDO, ENTRETANTO, TRATA-SE DE FALAR SOBRE A FIM DE MARCO OTÁVIO CAMARGO TEODORO, O NOSSO QUERIDO MARÃO, A COISA FICA MUITO COMPLICADA.

        TODOS OS CHAVÕES ENCAIXAM BEM EM UMA HOMENAGEM POSTUMA AO MARÃO.

        SÓ QUE TODOS ELES SOMADOS E MULTIPLICADOS JAMAIS VÃO CHEGAR PERTO DO QUE SE DEVERIA DIZER PARA REVELAR AO MUNDO O QUE ESSE CARA FOI EM SEUS CURTOS 64 ANOS E 20 DIAS DE VIDA.

        ELE NÃO FOI UM CIENTISTA NEM UM INVENTOR. NÃO SALVOU VIDAS EM HOSPITAIS NEM CONSTRUIU PRÉDIOS DUBAIANOS. ERA UM JORNALISTA QUE NUNCA FOI GRANDIOSO - APESAR DE TALENTOSO! CASOU-SE DUAS VEZES E TEVE CINCO FILHOS (THIAGO, THAIS, BARBARA, PEDRO E MATEUS) SEM NUNCA TER SIDO O MARIDO IDEAL OU O PAI PERFEITO. ERA UM HOMEM COMUM CAPAZ DE ERRAR COMO TODOS NÓS. O QUE O DISTINGUIA ERA O DOM DE FASCINAR AS PESSOAS COM SUA LEALDADE E HONESTIDADE.

        ESTE É O NOSSO MARÃO. O MARÃO AMIGO. O MARCO OTÁVIO DOS NOVOS TEMPOS, AMIGO SEM DEFEITO PARA OS AMIGOS. DE UMA POSTURA, AOS 64 ANOS, IDÊNTICA À DE 1951, QUANDO NASCEU. MARÃO PARECE QUE NÃO ENVELHECEU. ELE CRESCEU, MAS PERMANECEU COM A INGENUIDADE, SIMPLICIDADE E PUREZA DOS ANOS 50.

         JAMAIS OFENDEU ALGUÉM POR QUERER. ACEITAVA TODAS AS DISCORDÂNCIAS DAS PESSOAS COM A HUMILDADE DE UM APRENDIZ. MODESTAMENTE ACREDITAVA SEMPRE QUE PODIA DAR UM PASSO À FRENTE SEM ERRAR. DEIXOU UM BELO EMPREGO NA TELEMIG PARA ABRIR SEU RESTAURANTE, “ATHELIER DE COMIDA”, COM A PROPOSTA DE SER UM DOS MELHORES DA CIDADE. FECHOU SEM TER SIDO. E ABRIU SUA EMPRESA DE ASSESSORIA DE IMPRENSA E RELAÇÕES PUBLICAS, A “TREM DE COMUNICAÇÃO”, ONDE VIVEU OS ALTOS E BAIXOS COMUNS DESTA SOFRIDA MISSÃO.

        FOI UM APAIXONADO EMBAIXADOR DE OURO PRETO, LUGAR QUE ELE AMOU COMO A SUA CIDADE NATAL. FALAVA COMO SE FOSSE OUROPRETANO E VIVIA ‘CONSPIRANDO’ FESTINHAS NA CIDADE PARA REVER OS AMIGOS E FAZER OUTROS MAIS.

        NESSA TRAJETÓRIA, NÃO ME LEMBRO DO MARÃO DANDO UM ESPIRRO SEQUER. NUNCA RECLAMOU DE DORES INUSITADAS NEM DISSE QUE PRECISAVA IR AO MEDICO. FOI PEGO DE SURPRESA E, NEM ASSIM, ACHAVA QUE ERA O FIM.

        COM NOVO CONTRATO DE TRABALHO PRONTO PARA COMEÇAR NOVA JORNADA, ENTROU PARA O HOSPITAL LUXEMBURGO EM SETEMBRO ULTIMO E LÁ VIVEU OS 43 PIORES DIAS DA SUA VIDA. EMAGRECEU BONS QUILOS, MAS NUNCA DEIXOU QUE AS NOTICIAS RUINS ABATESSEM O SEU CARACTERÍSTICO OTIMISMO. COMO ERA DO SEU FEITIO, FEZ AMIZADES COM MEDICOS, ENFERMEIRAS E COMPANHEIROS PACIENTES.

        QUANDO RECEBEU ALTA E FOI PRA CASA MATAR A SAUDADE DOS PEQUENOS MATEUS E PEDRO, MARÃO ESTAVA CERTO DE QUE EM POUCOS DIAS ESTARIA DE NOVO NAS ESTRADAS COLOCANDO SUA FORÇA DE TRABALHO, SUA SIMPATIA E TALENTO A SERVIÇO DE NOVO CLIENTE.

        O INDESEJÁVEL, PORÉM, O SURPREENDEU. AS CONSEQUÊNCIAS DO TRATAMENTO DE UM CÂNCER AGIRAM RAPIDO E EM MENOS DE 48 HORAS UMA INFECÇÃO TIROU DO SEU ROSTO AQUELE SORRISO FELIZ QUE O ACOMPANHOU POR TODA A VIDA. 

        …E QUE JAMAIS SAIRÁ DA NOSSA MEMORIA!

 Por SERGIO AUGUSTO CARVALHO

   JORNALISTA E AMIGO