Primeiros trabalhos dos irmãos Lumiére estão na programação no Cine Vila Rica;
na tarde de domingo, debate sobre o negro no cinema animou as discussões no Centro de Convenções
A segunda-feira, 22 de junho, marca o último dia da 10ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto. A cerimônia de encerramento acontece às 21h, no Cine Vila Rica, com homenagem aos 50 anos de carreira do cineasta Luiz Carlos Lacerda. Para marcar o fechamento da primeira década da mostra, segue-se uma apresentação especial e inédita de filmes históricos com acompanhamento musical ao vivo do coletivo francês DoubleCadence. Na tela, os primeiros filmes dos irmãos Lumiére, realizados em 1895; o primeiro curta do português Manoel de Oliveira, Douro, Faina Fluvial(1931); e uma série de filmes amadores produzidos no Rio de Janeiro dos anos 1920 aos 1980. Completam o programa alguns trabalhos realizados por alunos das oficinas organizadas pelo festival e que prestam tributo ao pioneirismo dos Lumiére.
Antes disso, porém, a programação segue intensa ao longo de todo o dia na cidade histórica mineira. Às 10h, no Centro de Convenções, acontece o encontro Acervos, Projetos e Fontes de Financiamento da Preservação Audiovisual, com os convidados Adauto Cândido Soares (coordenador do Setor de Comunicação e Informação – UNESCO), Ana Isabel Ferraz (coordenadora do Centro de Memória Bunge), Fernanda Elisa Costa (coordenadora do Acervo Fílmico – IGPA/ PUC-GO), Teder Morás (consultor técnico/científico) e Fernanda Menezes Balbi (contadora do Departamento de Economia da Cultura do BNDES). Eles vão apresentar alguns dos trabalhos desenvolvidos em instituições públicas ou privadas para acesso a preservação e memória do audiovisual brasileiro. Outras atividades ligadas aos Encontros de Preservação e Encontros de Educação, voltadas aos participantes do Seminário do Cinema Brasileiro, estão agendadas ao longo da manhã e da tarde no local.
Os filmes à tarde no Cine Vila Rica começam às 17h na Mostra Histórica, com o documentário Ôrí (1989), de Raquel Gerber, que registra a história dos movimentos negros no Brasil dos anos 1970 e 1980 a partir de uma historiadora e militante em busca de sua identidade. Às 18h45, na Mostra Contemporânea, três médias-metragens serão exibidos, no mesmo Cine Vila Rica. Às 19h30, no Cine BNDES na Praça, a última sessão da mostra de curtas, com quatro filmes.
DEBATES
Na tarde de domingo, a mesa O Negro no Cinema - Entre estereótipos e reações discutiu algumas questões a partir da temática da CineOP este ano, O Negro em Movimento. O diretor e escritor Joel Zito Araújo, realizador do documentário A Negação do Brasil e da ficção As Filhas do Vento, foi contundente ao expor o processo de invisibilidade pelo qual passam os negros no país, em especial na mídia, nas telenovelas e no cinema, a partir do que ele chama de “teoria do branqueamento”. “Trata-se de um comportamento da indústria e de um movimento das elites. A nossa produção continua trabalhando um desejo internalizado de que a representação em todas as camadas visuais seja branqueada”, disse Joel Zito. “A sociedade internalizou um consciente coletivo de que o negro é o feio, é o sujo, e isso leva à invisibilidade”.
Ao seu lado, o pesquisador João Carlos Rodrigues, autor do livro O Negro Brasileiro e o Cinema, falou sobre o quanto o negro foi sistematicamente sub-representado em produções audiovisuais brasileiras ao longo da história, aparecendo muito mais em trabalhos que de alguma forma o diferenciassem enquanto personagem negro. Ele ainda frisou que o sistema social constrói um imaginário a partir de pré-julgamentos. “O negro é negro quando quer ser. Para a sociedade, a pessoa é negra quando parece ser. Essa diferença é política e essencial”.
EM BELO HORIZONTE
No dia 24 de junho (quarta-feira), às 20h, o coletivo francês Double Cadence dá a Belo Horizonte o privilégio de outra apresentação exclusiva, intitulada Soma de Todos os Tempos. O programa inclui a exibição de quatro clássicos franceses emblemáticos, numa sessão que homenageia o cinema mudo, com trilha executada ao vivo, ao mesmo tempo em que oferece uma releitura original e contemporânea à experiência. Os filmes da sessão são "La petite marchande aux allumettes", de Jean Renoir (1928), " Der Scheintote Chinese", de Lotte Reiniger (1923), “Le piano Irrésistible”, de Alice Guy (1907) e “Sun Air de Charleston", de Jean Renoir (1926).
No dia 25 de junho (quinta-feira), também às 20h, o programa do Cine-Concerto será intitulado Homenagens Históricas, tendo novamente o Double Cadence, desta vez num triplo tributo: aos 120 anos da primeira projeção pública do cinematógrafo, com a exibição de curtas-metragens dos irmãos Lumiére realizados em 1895; aos 450 anos do Rio de Janeiro, com imagens amadoras inéditas, registradas entre os anos 1920 e 1980 por famílias cariocas e consideradas algumas das primeiras cenas filmadas na Cidade Maravilhosa; e ao cineasta português Manoel de Oliveira, falecido em 2015 aos 106 anos e cujo primeiro filme, o curta Douro, Faina Fluvial (1931), será exibido.
As apresentações são gratuitas e acontecem no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna (Av. Afonso Pena, 4001).
Confira o site do evento: www.cineop.com.br
Serviço:
10ª CINEOP - MOSTRA DE CINEMA OURO PRETO
17 a 22 de junho de 2015
Idealização e realização: UNIVERSO PRODUÇÃO
Foto divulgação Universo Produção