Prof. Paulo Sergio Bretones - DME/UFSCar
Na noite de 27 para 28 de setembro, observadores de várias partes do mundo terão a oportunidade de observar um eclipse total da Lua. O eclipse será visível no leste do Pacífico, Américas, Europa, África e oeste da Ásia
Denomina-se eclipse ao obscurecimento parcial ou total de um corpo celeste em virtude da interposição de outro. A palavra eclipse vem do gregoekleipsis, que significa abandono, desmaio, desaparecimento. É uma das raras chances de observar-se um espetáculo tão belo da natureza. Embora os eclipses solares ocorram em maior número, vemos com mais frequência os lunares, pelo fato de os últimos serem observados em áreas consideravelmente superiores à metade da Terra.
Os eclipses lunares ocorrem quando a Lua penetra no cone de sombra da Terra, o que só pode acontecer na fase de Lua cheia pelo seguinte: A Terra gira ao redor do Sol num plano. Por exemplo, supondo que o Sol esteja no centro da face superior de uma mesa, a Terra se move em torno do Sol no nível desta superfície. Ao mesmo tempo a Lua gira em torno da Terra, mas o plano de órbita lunar é inclinado um pouco mais de 5º em relação à face da mesa. Embora a Terra projete sempre a sua sombra não a percebemos porque geralmente a Lua passa acima ou abaixo da sombra. Assim, quando a Lua cruza o plano da órbita da Terra, ou seja, passa por um nodo, e, além disso, o Sol, a Lua e a Terra ficam alinhados, ocorre um eclipse lunar. A sombra da Terra projetada no espaço se estende em forma cônica por cerca de 1,38 milhão de quilômetros. À distância de aproximadamente 360 mil quilômetros, onde está a Lua, o diâmetro da sombra tem cerca de 9 mil quilômetros. Além de uma parte escura, chamada umbra ou apenas sombra, a sombra da Terra tem uma parte cinzenta denominada penumbra. Mas é a sombra que dá o efeito de beleza ao fenômeno, pois a penumbra na maioria das vezes é imperceptível.
Na noite de 27 para 28 de setembro, a Lua irá nascer às 17h35min em Belo Horizonte, mas às 22h07min, a Lua cheia começará a "mergulhar" na sombra da Terra. Assim, uma linha divisória surge como um entalhe no bordo lunar e penetrando cada vez mais até que às 23h11min a Lua estará toda coberta pela sombra de nosso planeta. Isso vai até às 00h23min quando começará a sair da sombra até que à 01h27min sairá por completo e estará novamente toda iluminada pelo Sol. Desta forma, o meio do eclipse ocorrerá às 23h47min.
Os eclipses lunares já foram mais importantes para a pesquisa astronômica. Eles forneceram a primeira prova de que a Terra é redonda, foram utilizados no estudo da alta atmosfera do nosso planeta, no estudo da rotação da Terra, no tamanho e distância do nosso satélite além de variações em seu movimento. Além disso, os eclipses podem contribuir com a História na determinação de datas que se deram em tempos remotos.
Quando a Lua estiver toda imersa na sombra poderá tomar uma cor de cobre, isto é, avermelhada, pelo seguinte: A luz do Sol atinge a Terra e passa pela atmosfera. Os componentes da luz branca, que produzem as cores vermelha e laranja, espalham-se pelo ar cobrindo o céu com as cores do Sol no alvorecer e no crepúsculo. A refração transforma essas cores em sombra, por isso a Lua pode ficar avermelhada.
Neste ano tivemos ao todo 4 eclipses sendo 2 eclipses totais da Lua e 2 eclipses do Sol. Destes, apenas o eclipse lunar de setembro será visível no Brasil.
Contudo, este eclipse é especial, pois é o último de uma tétrade, um conjunto de quatro eclipses totais da Lua consecutivos. Em geral, os eclipses da Lua ocorrem como totais, parciais e penumbrais, mas de forma intercalada. Não ocorreram tétrades nos séculos XVII, XVIII e XIX. No século XX aconteceram 5 tétrades e no século XXI haverá oito. Os primeiros três eclipses da atual tétrade ocorreram em abril e outubro de 2014 e abril de 2015.
As observações do eclipse total da Lua podem ser realizadas com binóculos, lunetas e telescópios de fraco aumento.
Para fotografar o eclipse com câmera digital, pode-se fixá-la num tripé, em modo de foco infinito, paisagem ou cenário (landscape). Como se pode verificar o resultado da imagem obtida, é fácil experimentar o tempo de exposição durante o eclipse. Na fase de totalidade, pode-se usar sensibilidade de ISO 100 ou 200 e exposições entre 1s a 5s. Também se pode aumentar o ISO e diminuir o tempo de exposição.
Para exposições durante a totalidade, geralmente a câmera consegue se adaptar as condições de luz automaticamente, bastando apertar o botão de disparo para efetuar a foto nesta fase. Para as câmeras com opções manuais, pode-se usar exposições rápidas de 1/350 a 1/125 com ISO 100 para aberturas pequenas como 1:5,6 ou 1:8.
Em suma, pode-se utilizar mais de uma abertura e velocidade de disparo para garantir fotos de boa qualidade. Com a câmara fixa, apoiada em tripé, deve-se disparar manualmente em intervalos de três, cinco minutos ou mais.
É importante conhecer a trajetória aparente da Lua e fazer um ensaio na véspera para procurar o melhor local. Usando-se teleobjetivas, como o campo é limitado, é possível obter imagens maiores da Lua.
O Observatório Astronômico do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
Também na noite de 27 de setembro ocorrerá a abertura da XXXIX Reunião Anual da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), que vai até dia 01 de outubro, no Convenções da UFOP, em Ouro Preto (MG). Trata-se do evento mais importante da astronomia profissional brasileira e deverão ocorrer conferências, comunicações orais, apresentações de painéis, mesas redondas, reuniões de grupos de trabalhos e um minicurso para professores. Maiores informações podem ser obtidas em: (http://www.sab-astro.org.br/RA39).
O Observatório Astronômico do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), localizado na praça Tiradentes, em Ouro Preto, estará aberto ao público para observação do eclipse.
Mesmo ocorrendo de domingo para segunda, vale a pena ficar acordado e reunir a turma para observar esse raro fenômeno que é muito bonito de ser visto a olho nu. É um lindo espetáculo cujo único esforço necessário, se o céu não estiver nublado, é o de levantar a cabeça e deixar-se maravilhar pela sua beleza.
Serviço:
Eclipse total da Lua na noite de 27 para 28 de setembro (domingo para segunda-feira)
Observação aberta ao público no Observatório Astronômico e Setor de Astronomia do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da UFOP das 21h30min às 01h30min.
A exposição do Setor de Astronomia do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da UFOP estará aberta das 21h30min às 22h do dia 27 de setembro.
Entrada gratuita