Texto: Ana Luiza Gonçalves
Há quem minimize Ouro Preto apenas ao Centro Histórico, onde, de fato, encontram-se grandes motivos para visitar a cidade. No entanto, há cerca de dez anos, devido à rápida expansão, outro bairro vem chamando a atenção da população ouro-pretana e também de visitantes: a Bauxita. O nome se refere à rocha de cor vermelha, que contém em sua formação, principalmente, óxido de alumínio, e era muito encontrada no surgimento do bairro, em 1922.
Foi por causa da existência da pedra na região que a Alcan Alumínio do Brasil iniciou suas atividades na cidade, em 1936. Por Ouro Preto ser uma cidade com restrições para expandir, muito devido ao tombamento federal do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas, também, à instabilidade geológica da Serra de Ouro Preto, que a fábrica ocupou a Serra do Itacolomi, promovendo um crescimento programado.
O Vila Itacolomi, como a Bauxita era chamada antes, foi ocupado pelo 10º Batalhão de Caçadores do Exército Brasileiro e pela 4ª Companhia de Comunicações, também do Exército, sendo esta última realocada para a cidade de Juiz de Fora, em 1964. Em seu lugar foi instalada a Escola Técnica Federal de Ouro Preto (ETFOP).
Mas somente a partir da década de 1960 que o bairro começou a ganhar forma em função da alta produção de alumínio primário e expansão das ferroligas. Muitas casas foram sendo construídas para os funcionários da fábrica, a primeira escola do bairro também surgiu nessa época, assim como a associação de moradores do bairro, a Pró-Melhoramentos, construída pelos moradores, tanto em questão de mão de obra quanto de arrecadação financeira. Durante esse período, foram construídas cerca de 170 unidades habitacionais com urbanização completa: abertura de ruas, pavimentação, rede de distribuição de água potável, rede de esgoto, captação de água pluvial, posteamento elétrico, muros divisórios entre as casas, abastecimento de água e caixa d’água, entre outras ações.
A última expansão programa aconteceu em 1981 com a construção de um conjunto habitacional. Para este empreendimento, foram destinados, inicialmente, 5723 metros quadrados de área verde. Mas, conforme explica Marcelo Raimundo Assunção, membro da Pró-Melhoramentos, desta área anteriormente destinada a ser verde, ou seja, sem construção, sobraram, aproximadamente, 3860 metros quadrados. “A redução que é de 32% pode aumentar. Assim, o bairro passará a ter somente 50% da área verde original. Estamos andando para trás e o discurso de meio ambiente não está se transformando em ações reais”, afirma.
Em 1983, essas obras foram concluídas e na década seguinte, em 1995, a Escola de Minas, sediada no Palácio dos Governadores, no Centro de Ouro Preto, a Escola de Nutrição e a Escola de Farmáciaforam transferidas para o campus Morro do Cruzeiro, popularizando ainda mais o bairro. Entre 1980 e 2006 houve uma expansão urbana de 34,4%, segundo os Planos Diretores em Minas Gerais – Experiências e Arranjos Recentes. Em contrapartida, a população rural reduziu em 41%.
Marcelo Assunção conta que o bairro era um polo industrial e era necessário que os trabalhadores da Alcan, Samarco e Vale, que foram para a Bauxita em 1973, tivessem onde morar. “Não dava para morar em Cachoeira do Campo nem em Mariana, porque era muito longe. E por isso, as fábricas investiram na construção de moradias. A demanda foi crescendo para atender a expansão que o bairro estava tendo, tanto de mineração quanto de indústria”, diz.
Boom
O auge do crescimento do bairro aconteceu a partir de 2006 quando o Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – Reuni – começou a ser discutido na Ufop. A iniciativa faz parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e teve como objetivo criar condições para a ampliação do acesso e permanência no ensino superior, pelo aproveitamento das estruturas físicas e recursos existentes nas universidades federais.
Com início previsto para 2008, a perspectiva era que mais de seis mil alunos ingressassem na Universidade dentro de cinco anos, diluídos entre João Monlevade, Mariana e Ouro Preto, que recebeu mais de três mil novos alunos. Grande parte dos discentes moram atualmente na Bauxita devido à proximidade com o campus. “Atentos a nova demanda empreendedores do ramo imobiliário planejaram, construíram e ampliaram. O resultado foi uma enorme especulação imobiliária, um esgotamento de recursos, como fornecimento de água, já que a rede municipal não foi adequada à nova demanda, e conflitos de convivência entre moradores tradicionais e os recém-chegados”, lembra Marcelo.
Atualmente, a Bauxita conta com cerca 200 repúblicas entre federais, particulares e quitinetes, que se estruturaram no bairro, principalmente, após o Reuni. Segundo Márcio Eudócio de Oliveira, dono da Tripuí Imoveis, o bairro veio para somar à cidade de Ouro Preto. “A expansão imobiliária do bairro foi muito boa para o ramo, porque a cidade passou a ter outra opção, além do tradicional Centro Histórico, especialmente devido ao aquecimento da economia que aconteceu no país esse período”, relata.
Há dois anos na Bauxita, o Mix Shopping conta com lojas especializadas em roupas femininas, celular, salão de beleza, despachante veicular, serviços advocatícios, entre outras. Segundo o empreendedor Rodolfo Bastos, a escolha pelo bairro se deu em função da necessidade da população regional em ter acesso a lojas segmentadas mais próximas de suas casas sem precisar de se deslocar ao Centro de Ouro Preto. “Acredito que a tendência da Bauxita é se tornar cada vez mais independente da cidade se tornando o novo Centro de Ouro Preto, onde é possível fazer compras sem pegar trânsito e ainda tendo lugar para estacionar os carros, gerando economia de tempo para o consumidor. A população daqui anda carente apenas de serviço bancário, pois não contamos com agências no bairro. O Mix Shopping terá um posto bancário para tentar amenizar esse déficit, mas acho que não resolverá o problema”, conclui.
Segundo Rogério Ferreira, também membro da Pró-Melhoramentos, não há possibilidades dos bancos integrarem o bairro, porque as agências movimentam o Centro Histórico. “Os bancos levam movimento para a cidade. Existe um plano próprio do Centro em não trazer os bancos para a Bauxita, porque se tira de lá, mata o centro da cidade”, afirma. No entanto, Ferreira, morador do bairro há mais de quarenta anos, diz não sentir falta do serviço, pois consegue pagar suas contas na Casa Lotérica.
O bairro conta com:
Cinco supermercados, oito restaurantes, cinco academias, três açougues, cinco farmácias, três padarias, cinco escolas de idiomas, dois laboratórios de análises clínicas, três autoescolas, oficina mecânica, imobiliárias, locadora de vídeo, agência de viagem, loja de material de construção, pousadas, veterinárias e petshop, Casa Lotérica, Delegacia de Polícia, posto dos Correios, Fórum da Justiça do Trabalho, escritório da Cemig, APAE, Hospital, entre outros estabelecimentos.
Curiosidades
Os primeiros moradores do bairro tinham o apelido de pé de pomba devido à quantidade de barro encontrada no bairro.
Existia no bairro um campo de aviação do exército e a chamada lagoa seca, que tinha esse nome por encher somente no período das águas.
A sede do Pró-Melhoramentos (Associação de Moradores Pró-Melhoramentos do Bairro Vila Itacolomi) foi construída pelos moradores em 1975. Atualmente, a Associação desenvolve atividades como ginástica para grupo da terceira idade, capoeira, judô, projeto C.A.C – Caminhada, Alongamento e Corrida, entre outras ações.
A Igreja Nossa Senhora de Lourdes foi construída, em 2004, com a mão de obra e recursos financeiros doados pela comunidade sob a coordenação do engenheiro Antônio Clésio Ferreira, auxiliado pelo também engenheiro Neimar Almeida, ambos moradores do bairro.
O Reuni levou para o campus Morro do Cruzeiro os cursos de Educação Física, Ciência e Tecnologia de Alimentos, Museologia, Arquitetura, Engenharia Mecânica, Estatística e Licenciatura em Química. E ainda ampliou os cursos de Ciência da Computação, Direito, Engenharia Ambiental, Civil, Geológica, Metalúrgica, de Controle e Automação, de Minas e de Produção, Matemática, Química Industrial e Turismo.
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