EXPOSIÇÃO CASA GUINARD EXPOSITORES: grupo de estudantes de arquitetura e urbanismo da UFOP; OBJETIVO: refazer os “passos de Guignard” gerando produções artísticas novas, através de uma leitura contemporânea das paisagens, de modo a confrontá-las com a obra do artista; PRODUTOS: formatos diversos, de acordo com a experimentação e expressão do aluno; ESPAÇO: Porão da Casa Guignard.
Prezado Sr. Guignard,
Já conhecemos o senhor e frequentamos vossa casa aqui nessa inspiradora ladeira da Rua Direita desde algum tempo. Somos um pouco jovens, de outra geração. Vivemos em um mundo um pouco diferente do que pertenceu ao senhor. As coisas por aqui mudaram, as ruas estão cheias de carros, os casarões tiveram alguns retoques, as perigosas pretensões dos modernistas também chegaram por aqui. Talvez essa cidade já não seja tão calma, talvez faça mais calor à noite e tenha umas duas estrelas a menos no céu. Talvez o céu também não esteja sempre nas mesmas cores lindas que o senhor pintou. Sabe, fecharam alguns becos, acenderam algumas luzes a mais durante a noite. Muita coisa mudou.
Mas nem tudo mudou, Sr. Guignard. Nós ainda vivemos nessa cidade que tanto o inspirou há algum tempo, nem tanto assim, atrás. E sabe, acreditamos que a mudança faça parte das paisagens, acreditamos que o mundo precisa de mais arquitetura e mais arte para ser melhor. Acreditamos que o tempo passa e acreditamos que muitas coisas são eternas. E nesse contexto, na mesma cidade diferente que o senhor. viveu, nós, enquanto pequeno grupo de estudantes de Arquitetura e Urbanismo da Universidade fundada nessa cidade que o Sr. tanto amou, ousamos nos sentir inspirados e produzir algumas coisas que andam chamando de arte por aí.
Apesar de diferentes, mestre, nós o admiramos. Nós adoramos a silenciosa casa do senhor. Adoramos esse refúgio de paz, as cores dos cartões de aniversário que o Sr. Escreveu, Adoramos os retratos e amamos, amamos muito as paisagens. Como a gente já disse, elas mudaram, mas isso não necessariamente é ruim, certo? A mudança faz parte, determina novas formas de pensar, novas correntes, novas sociedades e culturas. As coisas se inter-relacionam. Existe essa Ouro Preto que é antiga, que é moderna, que é contemporânea. Existe essa mistura de cores, estilos, até de sotaques. Muitas pessoas vem do mundo todo visitar essas ruas estreitas, sabe. As influência são muitas, os recortes ilimitados. Por isso acreditamos na ideia de que a cidade é a mesma e é diferente. E inspira de forma diferentes, mas às vezes também iguais. Existe algo que nos aproxima.
Dar uma volta no passado, mesmo que recente e, acredite, Sr. Guignard, o tempo passa realmente cada vez mais rápido, nos torna mais seguros, mais fortes, nós acreditamos na importância de trabalhos como os que o Sr. desenvolveu. Podemos ultrapassar alguns limites graças à ousadia de pessoas como o Sr. que ultrapassaram limites anteriores. Estamos mais expostos, talvez mais subjetivos, talvez mais loucos. Estamos mais frágeis, nossa sociedade talvez faça isso, vulneráveis. Mas isso nos torna sensíveis certo? O que seria da obra do Sr. sem tamanha sensibilidade? Do traço ao ponto. Do verde ao rosa. Da tela ao violão.
Essa introdução talvez muito delongada, mas também muito sincera, é para fazer um pedido ao Sr.: gostaríamos de refazer os vossos passos, sentar nos mesmos lugares que o Sr. se sentou, observar as paisagens dos mesmos ângulos. Gostaríamos de propor esse novo exercício, inspirados em vossa prática e, dispostos a expressar o que conseguimos ver e sentir, retratar essa Nova Ouro Preto do contemporâneo. Esperamos estar à altura e não decepcioná-lo.
Alunos, admiradores e inspirados: Raone Tomazelli, Thiago Andrello, Ana Laura Neves e Priscila Cristeli
Esta exposição é uma livre iniciativa de um grupo de alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Minas/UFOP que encontraram na maneira como Guignard trabalhava Ouro Preto em sua obra uma referência para a eles estudarem a arquitetura e a paisagem urbana da cidade. Por isso, eles tiveram como ponto de partida o projeto do Museu Casa Guignard, Passos de Guignard, e associaram a esse trabalho as técnicas de desenho que cada um desenvolveu ao longo do curso de Arquitetura. Assim, a exposição é uma demontração de como é possível trazer para a formação dos arquitetos, questões que foram trabalhadas no campo das artes plásticas. Ela também responde a uma questão sempre colocada pelos estudades no inicio do curso: por que estudar arquitetura em Ouro Preto? Nesse sentido, essa é apenas uma das inúmeras respostas possiveis.
Serviço
Guignard: os passos, o espaço e tempo.
Abertura; 18/05 (4a), às 18:00, Museu Casa Guignard