Por Agliene Melquíades
Fotos: Gabriel Reis Tropia
Tecer novamente os caminhos da história e sentir seus resquícios ainda tão sólidos é algo que encanta a muitos, principalmente aos mais aventureiros que apreciam o sentimento de liberdade e as experiências que acumulam em uma vasta bagagem. O cicloturismo consiste em viajar utilizando como meio de transporte a bicicleta, e é uma ótima maneira de conhecer novos locais, pessoas e culturas. Além de econômico, promove o bem estar e a ecologia.
Pelos três caminhos principais da Estrada Real (Caminho dos Diamantes, Caminho Velho e Caminho Novo) é possível encontrar muitos cicloturistas, alguns em grupos, outros em duplas ou sozinhos.
O estudante de Educação Física e organizador do Ouroboulder, Gabriel Trópia, foi incentivado desde cedo pelos seus familiares a praticar esportes e hoje tem a pedalada como um estilo de vida. Ele e o pai, Paulo Trópia, percorreram de bicicleta um trecho do Caminho Velho do Ouro, entre as cidades de Ouro Preto e Tiradentes, de aproximadamente 180 quilômetros.
Os dois se prepararam na semana anterior porque moram em Ouro Preto, pedalam com frequência pelos distritos da cidade e, por isso, tinham uma idéia de como seria o trajeto e quais dificuldades poderiam enfrentar. A dupla pretende percorrer todo o Caminho Velho, que vai de Ouro Preto à Paraty, com 710 km de extensão. Fizeram o percurso até Tiradentes para terem uma melhor noção de como seria todo o trajeto. As marcações e mapas presentes no site do Instituto Estrada Real foram de grande auxílio na localização e cumprimento do trajeto.
Na rota, que é em sua maioria de terra, Gabriel e Paulo passaram por mais de dez locais entre cidades e lugarejos. Apreciaram paisagens maravilhosas, como as fazendas coloniais, pomares, ruínas históricas, plantações, criações de gado, capelas, vegetações de Mata Atlântica, Campos e Cerrado. Mas o que realmente os surpreendeu foi ver um carro de boi funcionando: é o passado em movimento.
Pai e filho foram sempre muito bem recebidos pela população local. “O caminho é uma preciosidade, e por onde passávamos encontramos com pessoas muito solícitas e receptivas, que ficavam sempre surpresas ao saber que éramos pai e filho caminhando” diz Gabriel. Pela estrada conheceram gente de diversas localidades, como do Espírito Santo.
No município de Entre Rios (aproximadamente 90 km de Ouro Preto) contemplaram igrejas, o centro histórico e a simpatia do povo. Perto da cidade está localizada uma das capelas mais antigas do estado, a Capela dos Olhos d’Água. A região abrange também a comunidade São José das Mercês e sítios remanescentes relacionados à arqueologia, onde viveu a tribo indígena Cataguá. Já em Bichinho, vilarejo entre Prados e Tiradentes, encontraram pousadas e a típica culinária mineira. O lugar possui diversas lojas de artesanatos fabricados com papel machê, cipó, madeira e outros materiais. Os produtos são feitos pelos próprios moradores.
Fazer uma viagem não só pelo passado, mas também o ligar ao presente e perceber como os moradores dos lugarejos convivem e vivem uma tradição é algo interessante que permite refletir sobre como as pessoas interagem com as outras dentro de suas próprias culturas. “A vida nesses lugares é muito sutil. É interessante observar os modos de vida que encontramos quando passamos por locais diferentes dos nossos”, diz o estudante.
A viagem durou três dias. Apesar de alguns imprevistos mecânicos em uma das bicicletas, os dois pedalaram em média dez horas diárias.
Gabriel ressalta que mais importante que o condicionamento físico é o planejamento estratégico. Analisar quais os períodos de tempo a pedalada será mais rentável, ter uma boa alimentação, roupas adequadas e disciplina para acordar, por exemplo, são atitudes que fazem toda a diferença. O estudante também aconselha aos interessados em praticar o cicloturismo a terem uma noção básica sobre as peças e funcionamento da bicicleta, pois em caso de algum imprevisto no trajeto é muito difícil encontrar alguma assistência mecânica.
Quando perguntado sobre as sensações e aprendizados que a caminhada e os momentos lhes proporcionaram, Gabriel diz que “é um sentimento de realização muito grande, porque passamos sempre por lugares maravilhosos, com pessoas muito receptivas. Percebemos que a simplicidade conduz a uma vida feliz, não é necessário muita coisa.” Pai e filho planejam percorrer todo o Caminho Velho que termina na cidade de Paraty – RJ no final do ano.