Antes de Ouro Preto ser elevada a Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido pela UNESCO em 1980, o município já havia se consolidado como um dos destinos histórico-culturais mais importantes do Brasil. De acordo com o historiador Leon Kaminsk, desde a década de 1930, a cidade já vinha recebendo investimentos federais e estaduais para o desenvolvimento do turismo, acompanhados de toda uma construção discursiva sobre Ouro Preto como “cidade histórica turística”, com grande produção de escritos sobre a cidade, o barroco mineiro e a inconfidência.
Mas, em 1967, o turismo da cidade tomou novo fôlego por meio de iniciativas realizadas pela gestão municipal, na época, com o então prefeito Genival Alves Ramalho. Tais iniciativas estavam alinhadas com a política nacional do setor turístico, difundida por órgãos como a Embratur e o Conselho Nacional de Turismo, ambos criados em 1966.
Documentações do Acervo Público Municipal de Ouro Preto mostram que, em 1967, o então prefeito Genival Ramalho solicitou a criação de um Serviço Municipal de Turismo, que mais tarde se chamaria Fundação de Turismo de Ouro Preto, primeiro órgão municipal com o objetivo de estruturar a atividade na cidade. Medidas para melhorar a infraestrutura turística local foram realizadas, como o contrato com os párocos para manter as igrejas abertas em horários determinados e pagar seus zeladores; a criação de postos de recepção aos turistas na entrada da cidade e na Praça Tiradentes, com uma equipe de cicerones e recepcionistas para dar as boas vindas e distribuir informativos como mapas, relação de preços de hotéis e restaurantes e outras informações turísticas necessárias; a produção de material de divulgação da cidade — folhetos, informativos, material destinado à imprensa escrita e falada, concurso de fotografias e exposições.
Também em 1967, eventos da cidade começaram a receber patrocínio da Prefeitura Municipal de Ouro Preto, por meio do Departamento de Turismo. É o caso do 4º Festival de Arte de Ouro Preto, Semana da Cidade, homenagem ao bicentenário de nascimento de Marília de Dirceu e festividades em honra a Nossa Senhora da Conceição.
Seguindo a política de promoção da cidade por meio de eventos, ainda em 1967, de negociações entre a Prefeitura Municipal de Ouro Preto, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e as Escolas de Belas Artes e de Música da UFMG surgiu o primeiro Festival de Inverno, tendo Ouro Preto como sede.
Ao acolher o evento, a Prefeitura Municipal tinha como objetivo promover a cidade por meio de um festival que proporcionaria o estudo das artes. Dessa forma, a Prefeitura, a Escola de Farmácia, a Escola de Minas e a Escola Técnica Federal de Mineração e Metalurgia de Ouro Preto cederam espaços para que ocorresse a programação do evento.
O historiador Leon Kaminsk relata que o Festival se beneficiou muito desse contexto de desenvolvimento do turismo, mas também foi responsável por dar um grande impulso ao turismo de Ouro Preto. Em sua dissertação de mestrado, ele aponta que, entre os anos de 1967 a 1979, o Festival de Inverno atraía, anualmente, de 100 mil a 350 mil pessoas do país inteiro e do exterior para Ouro Preto.
Em sua dissertação, o estudioso também relata que o objetivo principal do Festival era o ensino das artes. Nesse período, os alunos destinavam as manhãs e as tardes, de segunda a sábado, ao estudo com professores e artistas renomados, brasileiros e estrangeiros. Ao lado dos cursos que chegaram a contar, em algumas edições, com mais de 500 alunos, havia espetáculos e exposições que ajudavam na formação artística dos alunos, e eram ferramentas de difusão cultural direcionadas à população local, aos cursistas e aos turistas.
Esse intercâmbio cultural entre professores, alunos, turistas, artistas — inclusive artistas e professores estrangeiros —, durante mais de 10 anos seguidos (de 1967 a 1979), propiciou a projeção de Ouro Preto no contexto nacional e internacional das artes na década de 1970.
50 ANOS - Atualmente, o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana é produzido pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) com o apoio das prefeituras municipais de ambas as cidades, que, nesta edição, estão mais próximas, ajudando efetivamente na sua realização. “As Prefeituras de Ouro Preto e Mariana têm ajudado muito na construção do Festival deste ano, em todos os sentidos”, afirma o novo pró-reitor de Extensão da UFOP, Marcos Knupp, que tomou posse este ano. “Aqui em Ouro Preto, por exemplo, estamos resgatando a integração de dois eventos, o Festival de Inverno e a Semana da Cidade, como era feito em anos anteriores”, acrescenta.
Marcos Knupp conta que o Festival, desde o seu início, em 1967, tem uma ligação direta com Ouro Preto, e também com o turismo, por atrair um fluxo intenso de visitantes durante o evento. “Nesse sentido, é uma obrigação da Universidade fomentar um Festival de Inverno que esteja à altura das cidades de Ouro Preto e Mariana, sendo duas das cidades mais importantes do Brasil em termos de turismo histórico e cultural”, afirma Knupp.
O novo pró-reitor ainda diz que, nesta edição, o objetivo é resgatar a relação da Universidade com as comunidades de Ouro Preto e Mariana por meio de ações que valorizem e promovam a cultura local dentro do Festival.