Texto Mayara Portugal
Foto Tuila Dias
Na tradicional rua Alvarenga, no bairro Cabeças, em Ouro Preto, mora Roque. De estatura média, pele enrugada, com cílios e sobrancelhas brancas, o senhor de 80 anos caminha pelas ladeiras da cidade enquanto fala de suas histórias da juventude.
A trajetória de Roque Nolasco se encontra com a história do Zé Pereira do Club dos Lacaios. Filho de Maria Salomé Nolasco e José Norberto Nolasco, Roque foi o único da família que se interessou pelo Bloco. Ainda adolescente, aos 15 anos, pediu à mãe para participar do Zé Pereira. Ela apoiava a ideia, mas seu pai não gostava de carnaval e não queria ver o filho envolvido na folia. Depois de muita insistência, o pai concordou em deixá-lo participar e, desde então, Roque faz parte do Zé Pereira.
No início, a vontade do rapaz era simplesmente participar do Bloco, mas não demorou muito para que conquistasse o papel do personagem que atormentava as crianças da cidade, o Capeta Cariá. Vestido com uma fantasia de tiras de couro, o Capeta riscava a lança no asfalto e assustava as crianças que acompanhavam o cortejo carnavalesco.
Os ensaios aconteciam sempre às quintas e domingos, pontualmente às 19h. O lugar variou ao longo dos anos, primeiro na casa do Geraldo Caboclo; em seguida no Teatro Municipal na Casa da Ópera e, agora, na sede da agremiação, no bairro Antônio Dias. Após 41 anos como Capeta Cariá, Roque deixou o personagem e passou a levar o estandarte à frente dos cortejos do bloco, apresentando ao público os personagens e bonecos que completam 150 anos em 2017.
Para Roque, que completa 66 anos na agremiação esse ano, o Zé Pereira do Club dos Lacaios não é só um bloco de carnaval. Emocionado, ele fala sobre sua relação com a agremiação: “O Zé Pereira me faz sentir um bem muito grande, eu gosto do que sinto aqui e por isso estou aqui há tanto tempo. Minha família foi toda embora e o que eu tenho é aqui. Eu adoro o Zé Pereira, porque ele é minha vida”, declarou.
Por Mayara Portugal