Por Carolina Coppoli
Mosaicos, formas naturais, analogias orgânicas, Antoni Gaudí foi uma das grandes inspirações da artista paulistana, Cristine Baena, que está com a sua primeira exposição, “Alma de Vidro”, na Galeria SESI, em Ouro Preto.
“A primeira vez que eu fui no Parque Güell, me apaixonei, e falei: ‘nossa, sou eu!’. Essa coisa orgânica que tem no meu trabalho é totalmente inspirada em Gaudí. Cada vez que eu volto na Sagrada Família, ou no Parque Güell, me vejo lá”, descreve Cris Baena sobre a sua conexão com o modernista catalão.
Outros modernistas também são referências para ela, como Alexander Calder e Wassily Kandinsky, que a inspiram a usar o espaço tridimensional, e o artista Henry Moore, também com suas formas orgânicas e seus “ocos”.
As analogias ao orgânico são muito nítidas nas obras da artista, aparentemente, desprovidas de formas, ao mesmo tempo, profundamente naturais, pois são as formas da natureza, presentes nas plantas, nos animais, nas moléculas da água, do ar, do nosso corpo, em tudo que tem vida, altamente sensoriais.
A sensibilidade da artista se revela na escolha da matéria-prima para as suas criações: o vidro. “Não é um material fácil de trabalhar, mas, se você observar, ele é líquido”, aponta Cristine. Em suas obras, esta natureza líquida é facilmente percebida, sendo possível enxergar as moléculas de ar que se solidificaram no trabalho primoroso que ela realizou com o vidro. Cristine dá formas, textura, densidade, vida ao vidro, e nos revela características desta matéria que normalmente não enxergamos. O vidro, no dia-a-dia, é apresentado em sua forma rígida, geométrica, frágil, Cris Baena mostra a sua flexibilidade, resistência, pois ela o contorce, o esculpe, e, através de suas obras, percebemos a sua maleabilidade.
Para alcançar estes resultados foram necessários anos de estudos, em vários institutos e ateliês especializados em vidro, de diversos países. Cristine iniciou nas artes na Universidade de Tuiuti, em Curitiba, mas foi em 2008 que estreitou a sua relação com o vidro, quando se mudou para a Cidade do México, e se tornou a primeira artista residente no Studio Romero Gurman, após vários workshops com o casal proprietário. “Toda a parte técnica para trabalhar o vidro, que até então eu não tinha, veio deles, do Marco, e sua esposa, Débora”, diz a artista.
Também foi na Cidade do México que a ouro-pretana Fátima Tropia a conheceu e enxergou potencial na paulistana ao se deparar com um de seus primeiros trabalhos. E, há oito anos, em 2009, selaram um acordo, quando Cristine estivesse preparada, Tropia a ajudaria com a sua primeira exposição.
De lá para cá, Cris Baena fez cursos e participou de diversos workshops na Espanha e nos Estados Unidos, se tornou membro da Glass Art Society (GAS), e, no ano passado, teve a oportunidade de participar de uma Masterclass com Richard Wentworth no North Lands Creative Glass, em Lybster, na Escócia. Esta última experiência, e o fato de ter construído um sólido portfolio nos últimos anos, foi decisiva para Cristine sentir que estava preparada para a sua primeira exibição. Fátima Tropia não hesitou, trouxe a artista e as suas criações para Ouro Preto.
“Alma de Vidro”, em um primeiro momento, é um contraponto com a cidade, que, obviamente, não tem o vidro como matéria-prima de suas construções e arte barrocas, e até podemos dizer que há uma certa aversão à ele, devido ao seu grande conjunto de construções em pedra e casarios de pau-a-pique. Mas assim como no barroco, as obras de Cris Baena encantam pelas formas, curvas, densidade, sendo possível enxergar nelas o trabalho dedicado da artista, o tempo despendido e a preocupação com o aprimoramento.
Cris Baena inicia a nova fase da vida profissional em Ouro Preto, realizando a sua primeira exposição aqui. “As pessoas me perguntam por que Ouro Preto, e eu não sei responder, foi um convite da vida e eu aceitei”, relata com bom humor a paulistana. “É uma cidade que não conhecia tão bem, mas me acolheu muito. E acho que, desde a época colonial, as coisas novas sempre saíram daqui, relacionadas com os estudos e as artes do país. Se a vida me colocou neste lugar, é porque tinha que ser”, conclui a artista.
Importante observação, ‘Alma de Vidro’ é daquelas exposições que aguçam os nossos sentidos, um desafio para os mais viscerais, que não conseguem controlar os seus impulsos de tocar, pegar, sentir e interagir de maneira mais íntima com a matéria. Mas devido a fragilidade do vidro, não é possível se aproximar muito das obras, mas é possível contorná-las, e observar todas as suas formas. A dica é agachar para conseguir perceber a profundidade das instalações suspensas, e em uma das obras, os reflexos do visitante interagem com ela, portanto, aproveite para aguçar os sentidos e se divertir!
Serviço
Exposição ‘Alma de Vidro’
Galeria SESI – Praça Tiradentes, nº04, Centro - Ouro Preto- MG
De 07 de setembro a 01 de outubro - das 09h às 19h
Artista: Cristine Baena
Curadoria: Fátima Tropia
Produção: Fabiana Mascarenhas