Por Carolina Coppoli
Sem dúvida nenhuma, uma das exposições mais importantes deste ano em Ouro Preto está acontecendo nas duas galerias do Museu Casa dos Contos. “Gravuras de Yara Tupynambá”, que fica em exibição até o dia 29 de abril, reúne 54 trabalhos da artista, com curadoria realizada pelo trio Clarice Fonseca, José Theobaldo Júnior e José Roberto Pereira.
Aos 86 anos, Yara Tupynambá é uma das artistas mineiras de maior reconhecimento pelo seu trabalho. Ela já participou de vários salões de arte moderna no Brasil e no exterior, realizou inúmeras exposições individuais pelo país, tem participação em mostras internacionais, está presente em livros sobre arte brasileira, recebeu prêmios e medalhas de reconhecimento por seu trabalho e o título de Artista do Ano, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte, em 2011. São 104 painéis e murais da artista espalhados por várias cidades brasileiras, e 7 deles são tombados pelo Patrimônio Histórico Cultural de Belo Horizonte. Falando apenas por alto, já é possível perder o fôlego.
Mas a importância desta exposição está além de estarmos recebendo uma artista tão produtiva e atuante como Tupynambá. Pessoalmente, é uma oportunidade incrível, pois as histórias que mais me fascinam sobre Ouro Preto, as quais cresci ouvindo, Yara era uma das personagens principais. Histórias dos melhores Festivais de Inverno e da Boate do Hotel Pilão, dos tempos de efervescência artística e cultural em Ouro Preto. Estas histórias que os ouro-pretanos não se cansam de contar, devido a beleza dos momentos que a arte proporcionou à cidade.
Por 12 anos, Yara Tupynambá deu aula nos Festivais de Inverno de Ouro Preto, tomava bambá de couve no Pilão (segundo confidenciou-me em sua vernissage, que ocorreu no último dia 22), e passou alguns anos vindo à cidade para produzir e compartilhar seus conhecimentos. Como ela própria disse, boa parte das gravuras de Ouro Preto foi feita por ela.
Em “Gravuras de Yara Tupynambá” está nítido que seu grande mestre foi Alberto da Veiga Guignard, do qual herdou a delicadeza e, assim como ele, o fascínio pelas paisagens de Minas Gerais. Podemos dizer que, até os dias de hoje, ela difunde o modernismo trazido por Guignard ao estado.
Na exposição, é visível a influência de vários artistas modernistas europeus em suas obras. Artistas como Paul Gauguin, Pablo Picasso, Van Gogh e Édouard Manet permeiam o seu imaginário. Yara é amante das cores e da técnica, e se vale de várias delas, gravura, colagem, desenho, pintura, o seu largo conhecimento técnico e acadêmico também está nítido na exposição. Yara é uma grande propagadora da arte moderna, sendo uma referência do modernismo mineiro das artes plásticas, e quem foi aluno(a) dela, sem dúvida alguma, aprendeu a admirar o melhor desse estilo artístico.
Como todo artista fidedigno, consciente do papel transcendental da arte, no sentido de ser vital para a vida, mas estar além dela, Tupynambá, ao se despedir em sua vernissage, na Galeria do Museu Casa dos Contos, disse em seu discurso, “sou uma velha senhora, uma velha artista, que está sempre procurando a beleza em si, como foi a busca de Guignard, que foi o meu mestre e com quem eu estive por 6 anos”. E consciente do papel social da arte, ela completou, “estou lisonjeada por estar dentro deste espaço tão nobre e tão significativo, dentro de uma cidade que é o berço da liberdade e da busca pela democracia no Brasil, me sinto orgulhosa”, concluiu a artista que faz parte de tempos saudosos da nossa história.
A exposição “Gravuras de Yara Tupynambá” ocupa as duas galerias do Museu Casa dos Contos até o dia 29 de abril.
Serviço
Exposição: Gravuras de Yara Tupynambá
Local: Grande Galeria da Casa dos Contos - Rua São José, 12, Centro, Ouro Preto - MG
Horários: terça a domingo, de 10h às 18h; segundas e feriados, de 14h às 18h
De 23 de março a 29 de abril de 2018 - entrada franca