Na ocasião a livraria anuncia uma discussão sobre o livro com Angelo Oswaldo de Araújo Santos, Guiomar de Gramnont, Marcela Dantes e o autor.
Sobre o livro diz Lucia Castello Branco, Professora de Literatura da UFMG:
“ Como deixam um menino que é do mato amar o mar com tanta violência?” São estas palavras de Manoel de Barros que me ocorrem, de cor, de coração, quando o leio estes contos de Hélio Lauar. E devo confessar que minha leitura começou pelo fim: Omar. Atraída pelo título, e pelo marulho que já aí se anunciava, fui levada primeiro ao fim, para depois retornar ao começo. Foi quando, então, encontrei: “A vida é um rio, e a água que passa não retorna. Dizem que vai pro mar. O mar é grande, mas o coração não é da mesma natureza”. E aí passei a perguntar: “De que natureza é o coração de Hélio Lauar?”
Li, nas evidências, que sua natureza é a do sertão. Sabemos, desde Rosa, e antes mesmo de Rosa, que o sertão é o sozinho, o sertão é dentro da gente. Mas o coração, nos diz Hélio, pode ser de outra natureza. O coração, como ele bem sabe, obedece aos movimentos de sístole e de diástole. E, segundo Maria Gabriela Llansol, se a “sístole é aguda e está a cargo do homem, que tem por incumbência perscrutar”, “a diástole compreende os graves, que estão em contato com as fontes de alegria”. E “sempre se pediu que a alegria fosse profunda, como o amor”.
Surpreende-me, neste livro de breves alegrias, que o mar aberto tenha sido reservado ao fechamento do livro. O mar no branco da porcelana, quebrado. O mar no peixe de Goa. O mar nas cicatrizes de ouro. O mar no céu lavado, emprestando cor à limpeza e quase escrevendo um nome. Mas a foto dele, o mar, jamais seria revelada. Apenas uma lágrima, rolando abaixo, poderia indicar que um dia o rio correria para lá.
Resta-nos celebrar, com este livro de Hélio Lauar, esta espécie de milagre que a literatura sempre é: “a cada mil lágrimas, um milagre”, escreveu, certa vez, a poeta Alice Ruiz. Celebremos, então, o milagre dos graves, que buscam, a todo custo, as fontes da alegria. E a natureza do coração desse escritor que, de sertão, de ser tanto, é também a do “luar libidinal”.
Participe. Lançamento do livro, manhã de autógrafos, debate sobre literatura. Entrada franca.
Outras Palavras Livraria, Rua Getúlio Vargas, 239, Rosário, Ouro Preto/MG, (31) 3551-1412.