Uma proposta do Coletivo Olho de Vidro de 2018 foi o pontapé inicial para a origem da mostra ONDE O POVO MINA-JEJE que está exposta na recém-inaugurada Casa de Cultura Negra de Ouro Preto. Pelas lentes do fotógrafo Eduardo Trópia – mesmas lentes que pertenceram ao seu pai, Milton Trópia, nos anos 1950 – 36 mulheres negras, ouro-pretanas ou com ligação forte com a terra, se propuseram a participar deste ensaio.
A partir de uma releitura do feminino, Eduardo procura mostrar, pelo semblante das mulheres, o empoderamento e a resistência do povo mina-jeje e de seus descendentes. “Meu pai falava que a fotografia vem da alma, não do rosto. Eu acho que a gente conseguiu buscar esse retrato da alma nessas 36 meninas”, conta Eduardo.
Na rede social, uma das modelos agradeceu: “Essa foi a minha primeira fotografia feita por um fotógrafo. Confesso que não conhecia essa mulher... Não fazia ideia da mulher forte, corajosa e poderosa que existia dentro de mim, que por muitas vezes só me sentia indecisa, insegura e frágil. Quando olhei pra ela, me vi, me encontrei, me encantei”, escreveu Mariane Ramalho
O secretário de Cultura e Patrimônio, Zaqueu Astoni, conta que “a exposição do Eduardo foi um presente para a inauguração da Casa porque veio a somar com as atividades culturais desenvolvidas na Semana do Reinado, e ainda por ter uma vertente ligada à questão da presença negra em Ouro Preto”.
A mostra ficará exposta pelos próximos 40 dias na Casa de Cultura Negra, localizada na Rua Padre Faria, 14 - ao lado da Igreja de Santa Efigênia. Horário: Segunda a sexta, das 8h às 18h.
Fotos: Ane Souz e Nízea Coelho
Sobre o povo mina-jeje
De acordo com o mapa etnológico africano, organizado pela linguista e pesquisadora Yeda Pessoa de Castro, o povo mina-jeje foi o segundo em quantidade a ocupar o Brasil, atrás apenas do povo banto. Ocupavam a região do antigo Reino do Daomé, hoje o país Benim. A denominação mina, entre muitas interpretações, entende-se como os negros provenientes da Costa da Mina, onde estava instalado o Forte da Mina, importante empório português do comércio do tráfico de escravos. Já a jeje vem do iorubá “adjeje” que significa estrangeiro, forasteiro.