Hoje dia 8 Ouro Preto completa 309 anos do seu título de vila, concedido a 8 de julho de 1711 pela Coroa Portuguesa. Mas completou 322 anos do início da ocupação do seu território, ocorrido a 24 de junho de 1698, quando o bandeirante Antônio Dias de Oliveira do alto da Serra de Ouro Preto avistou o Itacolomi. São duas datas auspiciosas para a cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido pela Unesco em 1980, e que nos convidam a uma reflexão sobre a cidade e os muitos fatos que lhe distinguem e marcam sua histórica e rica trajetória.
Nesta sua tricentenária existência, passou por alguns momentos que conformaram sua história urbana, econômica, social, política e cultural e que vale a pena lembrar: a exaustão do Ciclo do Ouro, que começa a partir de 1760, mas que não impede nem interrompe seu esplendor artístico e cultural; a Inconfidência de 1789, aspiração libertária precursora de poetas, padres, militares e comerciantes; a perda da condição de capital do Estado, em 1897; o tombamento pelo IPHAN em 1938; a grande expansão urbana a partir da década de 1960, que lhe muda a fisionomia.
Nos nossos dias aceleram-se as transformações, que alcançam a tudo e exigem contínua observação do mundo e uma objetiva visão de futuro. A epidemia que assusta a todos, nos leva obrigatoriamente a pensar que o mundo é cada vez mais unitário e estreito, o que amplia o diálogo universal e exalta aspirações como pertencimento, democracia, cidadania, justiça social, segurança social, impondo cada vez mais o aproveitamento de vocações, ousadia na tomada de decisões questões, gestão pública compartilhada e eficaz. Pensar o futuro tornou-se fundamental para minimizar riscos, evitar a perda de identidade, participar das conquistas do novo mundo e sua evolução científica e tecnológica, aproveitar oportunidades e potencialidades. Em resumo: quem não prestar atenção às mudanças e preparar o futuro, perderá o “bonde da história”.
Cidade singular, onde convivem o passado e o presente, com “traçado do Século XVIII mas com dinamismo do Século XXI”, Ouro Preto precisa encontrar equilíbrio produtivo, sustentável e convivente entre suas vocações básicas: preservação urbanística e arquitetônica, a exploração turística compatível com a cidade frágil nas suas edificações e traçado, a cultura popular, a sua condição de polo educacional, campus universitário. São setores de que se pode esperar maior dinamismo no pós-epidemia, com um mundo globalizado, e que passará certamente por um novo ciclo de expansão. Este é o grande desafio, a exigir, neste momento, planejamento rigoroso, sinergia de ações, visão integrada e solidária de suas forças políticas, empresariais, comunitárias.
Ouro Preto precisa encontrar novas lideranças, novas formulações, novos caminhos, novas mentalidades, ampliar e qualificar sua representação pública, desenvolver sua cidadania, organizar suas forças empresariais e comunitárias, abrir novos canais de comunicação, valorizar sua experiência histórica, seu acervo artístico e cultural, consolidar-se como destino turístico e cultural internacional, transformar suas vocações em efetivas riquezas para sua população. É hora de pensar numa nova etapa de sua tricentenária trajetória, num novo ciclo de avanços, de construção de redes de solidariedade que permitam convivência produtiva.
O debate político que já se trava, em função das eleições municipais deste ano, deve abordar todos estes aspectos. Ouro Preto, a complexidade da sua gestão pública, o acúmulo de problemas, a imperiosa necessidade de reduzir as desigualdades sociais, a excepcionalidade da cidade histórica submetida a tombamento arquitetônico e urbanístico, sua topografia que não permite expansões de desconcentração, a necessidade de aumentar receitas municipais, os investimentos necessários para educação, saúde e serviços urbanos básicos, são questões que devem estar nos debates. Mas, e sobretudo, Ouro Preto precisa de renovações, novas mentalidades, visões do futuro, abertura para um novo mundo, sem perder sua identidade histórica e cultural.
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