Comunidade sofre com a ameaça de rompimento da Barragem do Doutor, operada pela Vale; Instituto trabalha agora com a elaboração do Plano de Trabalho que vai orientar as ações
Dormir “com um olho aberto, outro acordado”. Lá em cima, suspensos sobre ruas e casas, 35 bilhões de litros de lama tóxica desvelam o sono dos cinco mil habitantes do distrito ouro-pretano de Antônio Pereira, depositados na Barragem do Doutor, parte do complexo de Timbopeba, da mineradora Vale.
O risco de rompimento da barragem, cujo nível foi elevado de 1 para 2, numa escala que acaba em 3, roubou a paz, a saúde, os modos de vida, a convivência, a história, os negócios, propriedades, moradias e os sonhos da comunidade.
Para adquirir condições minimamente equilibradas de negociar, com uma empresa de porte e poder como a Vale, a reparação de danos de tantas naturezas, materiais e intangíveis, a luta popular conquistou o direito de ter a seu serviço uma Assessoria Técnica Independente. O Instituto Guaicuy, escolhido pela população de Antônio Pereira para cumprir essa missão no processo de levantamento e reparação dos prejuízos, iniciou oficialmente suas atividades no último dia 14 de abril.
Contado a partir dessa data, o Instituto tem um mês para concluir o Plano de Trabalho, bússola que orientará as ações da ATI por meses a fio. A Diretora de Projetos do Guaicuy, Carla Wstane, garante que “as pessoas atingidas de Antônio Pereira podem contar com o total comprometimento do Instituto, e de seus profissionais, na escuta ativa dos problemas, no acolhimento das questões mais urgentes e no encaminhamento das demandas emergenciais”.
Carla ainda ressalta que “é fundamental que as comunidades de Antônio Pereira sejam municiadas de informações e procedimentos bem embasados que possam fundamentar a matriz de danos e os planos de reparação que contemplem os desejos e as demandas da população”.
Mãos à obra
Antes mesmo de serem liberados recursos para esta primeira fase, o Guaicuy já havia posto em campo a equipe que vai elaborar o Plano de Trabalho, com o objetivo de adiantar os contatos com as comunidades. Essa atuação prévia permitiu que, já no dia um dessa maratona, fosse realizada, com amplo sucesso, uma primeira reunião da ATI com a Comissão de Atingidos e outras lideranças comunitárias, em evento online que reuniu mais de 60 moradores.
O próximo passo, que começa nesta semana, é a reunião geral com todo o distrito, seguida de sete encontros territoriais, com grupos menores, permitindo maior aprofundamento e melhor conhecimento dos inúmeros problemas causados pela “lama invisível” que assombra Antônio Pereira.
Pela metodologia do Diagnóstico Rápido Participativo, aliada ao olhar atento sobre o histórico de luta dos atingidos e aos estudos e documentos já produzidos sobre o caso, será possível reunir as informações que darão corpo e alma ao Plano de Trabalho.
Juntos por Justiça
A vida atropelada da noite para o dia e a postura autoritária de quem trouxe o pesadelo criam barreiras cujo intuito é dividir indivíduos e comunidades e, assim, enfraquecer sua luta. Mas, como diz outra canção, “quando um muro separa, uma ponte une”.
O Guaicuy veio para ajudar a construir essas pontes, servindo as comunidades locais na tessitura solidária de um processo que resulte na reparação integral dos danos individuais e coletivos. Ronald Guerra, o Roninho, que coordena a equipe da Assessoria Técnica em Antônio Pereira e é vice-presidente do Instituto Guaicuy, batuca no mesmo pandeiro: “É muito importante que toda a comunidade esteja integrada, juntamente com os movimentos sociais e a ATI, se fortalecendo na união. Cada movimento, associação e pessoa tem um papel nesse processo, para que as conquistas venham e os direitos violados sejam enfim recuperados”.
Próximas reuniões do Instituto Guaicuy / Assessoria Técnica Independente (ATI) de Antônio Pereira
com as comunidades do distrito:
(Para maior aprofundamento e melhor conhecimento dos inúmeros problemas causados pela “lama invisível”)
1 - 23/4, sexta-feira - Baixada Projetada 10, 15 e ruas afluentes - 19 h
2 - 24/4, sábado - Vila Samarco (Residencial Vila Antônio Pereira) - 10 h
3 - 26/4, segunda-feira - Residencial Dom Luciano (Loteamento) e Distrito Industrial – 19 h
4 – 27/4, terça-feira - Ribeirinhos e Tabuleiro – 19 h
5 – 28/4, quarta-feira - Pedreira, Igreja Queimada e Residencial Bela Vista – 19 h
6 – 29/4, quinta-feira - Centro Histórico e Lapa – 19 h
7 – 30/4, sexta-feira – Pessoas removidas de suas moradias, tendo ou não deixado o distrito
Em pauta:
Para outras informações, entrar em contato com:
Paulo Barcala / Comunicação ATI Antônio Pereira
Celular e WhatsApp: (31) 99817-5577 / E-mail: paulobarcala@gmail.com
Sobre o Guaicuy
Criado no ano 2000 por pesquisadores, professores e ativistas sociais que atuavam no projeto Manuelzão (UFMG), o Instituto Guaicuy é uma entidade não governamental associativa, cultural e técnico-científica sem fins lucrativos. Seu trabalho é desenvolver ações socioambientais, culturais e educativas voltadas para a preservação e recuperação ambiental, à promoção da saúde e à cidadania. Atualmente, o Guaicuy conduz o Água Limpa Para Todos, focado na educação ambiental como forma de preservação de nascentes em um bairro de Itabirito, além de dois projetos de Assessorias Técnicas Independentes (ATI). Na bacia do Paraopeba, o Instituto acompanha o processo de reparação das regiões 4 (Curvelo e Pompeu) e 5 (região do Lago de Três Marias), afetadas pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Já em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto, o Instituto iniciou no último dia 14 de abril a assessoria técnica às comunidades locais, que convivem nos últimos anos com o risco de rompimento da barragem de Doutor, também pertencente à Vale.
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