Escritor e dramaturgo Julliano Mendes lança textos dramáticos e reivindica a leitura como forma de democratizar a dramaturgia contemporânea brasileira.
Lançamento acontece no dia 28 de setembro e estará disponível para download gratuito.
Textos percorrem vinte anos de trabalho dedicados às artes cênicas.
O escritor e dramaturgo Julliano Mendes lança, no próximo dia 28 de setembro, dez textos dramáticos de sua autoria. A publicação das obras foi viabilizada por meio da Lei Aldir Blanc, através da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo de Minas Gerais, e podem ser acessadas gratuitamente pelo endereço eletrônico www.jullianomendes.com.
Não é fácil rotular o trabalho de um autor que publica, de uma só vez, dez textos dramáticos, parte deles nunca encenado. O que resumiria a obra de Julliano Mendes é, de um lado, a necessidade de produzir um pensamento complexo, sem modismos, sobre a dramaturgia brasileira contemporânea, e, do outro, a obsessão pela escrita, a partir da crença em um teatro que foi feito para ser lido, ou, como diz o dramaturgo, “um teatro que aposta na dramaturgia como literatura”.
As obras transitam por distintas temporalidades, já que, para além da ideia de incorporar temáticas influenciadas por atmosferas sociais, políticas e estéticas do presente, elas têm também a ambição de revisitar temas consolidados pela cultura mundial pelas lentes do contemporâneo, ajudando a compreender as sociedades atuais e fornecendo pontos de vista para as futuras gerações.
As obras
O conjunto de textos dramáticos lançados pelo autor compõe um panorama irregular de uma obra marcada pela experimentação. Textos em prosa, textos em verso, adaptações, releituras, diversidade de temas e gêneros, fruto de um intenso trabalho de direção, produção e pesquisa continuada realizada por Julliano, ao longo de vinte anos de carreira dedicados às artes cênicas e à literatura.
“Nelson Rodrigues”, “Coração de Porco – Édipo em 4 Estações” e “Delírios de Will ou como Chupar os Ossos de Shakespeare” são obras assombradas pelos espectros de grandes nomes da dramaturgia mundial. Destaque para “Nelson Rodrigues”, tragédia familiar que revela o sadismo e as pulsões sexuais de uma “típica família brasileira”. Longe de ser datada, a obra se faz urgente e oferece ao leitor uma abordagem psicopolítica da sociabilidade brasileira, em tempos em que emblemas como “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, “meninos vestem azul e meninas vestem rosa” e “golden showers” tomam de assalto o imaginário público por meio de uma torrente de notícias falsas.
"12 ponto 223b" é uma crítica, disfarçada de ode, aos meandros burocráticos da política. Uma espécie de bastidores dos conchavos, negociatas e modus operandi daquilo que se convencionou chamar de “centrão”.
Já “Um homem Jogado No Sofá ou Uma Mulher Que Saiu Por Aquela Porta” e “Uma Novela Masculina” abordam relações de gênero, numa perspectiva exploratória sobre o machismo estrutural, e o casamento como limitação das potências humanas. “Amores e Dores no País das Flores” e “Histórias nas Paredes” são peças históricas, que se passam em uma Ouro Preto barroca, cidade natal do autor.
“Edvards e as mortes” é um texto inspirado pela jornada do herói, no caso, um homem comum que se vê desafiado a tornar-se um assassino frio, transformação de certa forma naturalizada, em um país que vivencia a morte como política. Por fim, “O Queijo - Uma Comédia Sórdida”, reverenciado pela atriz Grace Passô - que assina a apresentação do texto -, mostra quatro mulheres ante uma mesa de chá, e a fixação de uma delas: o queijo. A busca pelo laticínio dá, ao texto, quase um caráter policial. Sem o mínimo pudor aparente, nela, o autor transforma um simples chá semanal numa ação poética do mais doce apodrecimento humano.
Há que se chamar atenção para “Histórias nas Paredes”, “O Queijo - Comédia Sórdida”, “Edvards e as Mortes” e “Uma Novela Masculina”, obras em que Julliano Mendes exerce, com maestria, aquilo que chama de “Dramaturgia Cruzada”, com diálogos e cenas que se cruzam, gerando novas possibilidades de recepção e entendimento do texto.
Ousadia como gesto político
Lançar dez textos, em conjunto, é um gesto de ousadia. No caso de Julliano Mendes, mais que ousado, o gesto se faz político, em função de circunstâncias desfavoráveis. Certamente, o processo de degradação de políticas públicas no campo da cultura, sobretudo no âmbito federal, é uma delas.
Mas existem outras que, há alguns anos, se colocam como obstáculos: o fato da dramaturgia de Julliano estar inserida no universo independente; a dificuldade de penetração de novos autores e dramaturgos nos grandes centros de efervescência artística, em especial aqueles que fazem do interior do país sua morada e local de trabalho – o autor é natural de Ouro Preto, Minas Gerais -, e o esforço, por vezes árduo, em se fazer não somente lido, mas encenado.
Nesse sentido, ao oferecer suas obras de teatro para download gratuito, Julliano almeja transcender esses obstáculos. “Quero, com isso, projetar não apenas parcerias com grupos, criadores e produtores, mas também trabalhar a ideia de dramaturgia como literatura; discutir a urgência de mais investimento em publicação de dramaturgia brasileira, reverenciando editoras contemporâneas que se dedicam a esta linguagem”, reflete o dramaturgo que, em breve, realiza o lançamento de seu primeiro romance,“Um Circo”.
Julliano Mendes
É um escritor e dramaturgo ouro-pretano. Até em suas outras áreas de atuação - teatro, produção audiovisual, música, performance - a escrita se afirma como norte, como guia. É Bacharel em Direção Teatral pelo departamento de artes cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto, e Mestre em Estudos da Linguagem, pelo departamento de letras da mesma instituição. Fundador do Grupo Resid(ê)ncia, de Ouro Preto, escreveu e dirigiu eventos e oito espetáculos de teatro que primavam pelo desenvolvimento de novas dramaturgias e pela fusão do teatro com outras linguagens artísticas. Dentre os quais destacam-se “Rato do Subsolo ou o ódio impotente”, de 2009, inspirado em “Memórias do Subsolo”, de Fiodor Dostoeivski, “Amores e Dores no País das Flores”, de 2015, “O Queijo - Uma Comédia Sórdida” e “O Grande Governador da Ilha dos Largatos”, 2019, montada pela Orquestra Ouro Preto. Idealizou e produziu o Festival Para Gostar de Teatro, que neste ano realizou sua primeira edição on-line, com a participação de grandes nomes da dramaturgia mineira e nacional, como Rita Clemente, Larissa Bracher e Lirinha.
Em 2019, apresentou o trabalho em progresso “Literatura pra Dançar”, em parceria com o produtor e pesquisador musical Henrique Rocha, em que funde narrativa, projeção audiovisual e batidas sonoras numa performance multimídia. Recentemente, foi selecionado para o Ateliê de Criação da Academia de Ópera 2021: Dramaturgia e Processos Criativos, da Fundação Clóvis Salgado, com curadoria da encenadora Lívia Sabag e do maestro Gabriel Rhein-Schirato. Dentro do projeto, foi selecionado como libretista para, em parceria com o compositor Antônio Ribeiro, compor uma ópera breve, adaptação de O Grande Mentecapto, de Fernando Sabino. No momento, o autor prepara o lançamento do romance “Um Circo”, pela editora Ouro Preto, que trata das relações de alteridade e diferença em um país marcado pela intolerância.
Serviços
Dez Textos Para Teatro
Dia: 28 de setembro
Site: www.jullianomendes.com
Link para download: https://drive.google.com/drive/folders/1iQ8GnyvwKG1WkPKwWcmG7BxJIt8lYTbu?usp=sharing
Sugestão de Fonte
Julliano Mendes: (31) 98858 – 8678
Assessoria de Comunicação
Saulo Rios (31) 99848 – 9333
saulorios.comunicacao@gmail.com