Nesta quinta-feira (27/01) é comemorado o Dia Internacional do Conservador Restaurador. É uma data especial para a Fundação de Arte de Ouro Preto|FAOP, que conta com o Núcleo de Conservação e Restauração, o Curso Técnico em Conservação e Restauro, e o Laboratório de Conservação e Restauro Jair Afonso Inácio|Labcor. A FAOP abriga o primeiro curso formal de restauradores do país, criado na década de 1970.
Desde o reconhecimento do seu Curso Técnico em Conservação e Restauro pelo MEC, em 2002, a FAOP já formou 373 restauradores, especializados nas áreas de papel, escultura policromada e pintura de cavalete. Além disso, a fundação já restaurou mais de 2 mil obras ao longo dos anos, que retornaram para suas comunidades.
Participando do programa da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, “Trilhas de Futuro”, o Curso Técnico matriculou, no último semestre, 50 alunos com bolsa integral de estudos e ajuda de custo para alimentação e transporte, totalizando assim 124 alunos matriculados atualmente.
Para o presidente da fundação, Jefferson da Fonseca, é uma data de celebração e reconhecimento. É tempo de ressaltar a importância dos restauradores e conservadores, que tanto contribuem para a preservação do nosso patrimônio cultural. “E neste momento, estamos trabalhando ainda mais pelo fortalecimento dos ofícios. Seguindo as diretrizes da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, estamos empenhados na descentralização das nossas ações, levando também para outras cidades os nossos cursos de restauro e conservação".
Restauro de pinturas de cavalete no Núcleo de Conservação e Restauração da FAOP. Foto:Asscom FAOP
A primeira experiência de formação em restauro no país
O conservador-restaurador é o profissional capacitado a preservar e restaurar o patrimônio, e carrega consigo o compromisso de cuidar de parte da história de cada cidade, cada região, cada país.
No Brasil, um dos principais nomes da atividade é o ouro-pretano Jair Afonso Inácio(1932-1982), considerado um dos pioneiros na preservação de nosso patrimônio artístico. Nascido no distrito de Antônio Pereira, Jair enfrentou uma infância difícil, mas se encantou pela arte ainda menino. Aos 17 anos já havia executado seu primeiro trabalho de restauro, como auxiliar de pintura, e desde então realizou trabalhos na área no Brasil e pelo restante do mundo, passando por países como Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Noruega e tantos outros.
A história de Jair se mistura com a trajetória da FAOP. Em 1971, três anos após a criação da instituição, que até então oferecia cursos de arte, Jair Inácio criou o curso de “Restauração de Obras de Arte”, percebendo a necessidade latente de formar profissionais capacitados na região, tão rica em obras históricas.
Jair Afonso Inácio exibindo tela restaurada, em 1982. Foto: Arquivo FAOP
Jair lecionava as técnicas de restauração, mas também história da arte e química, e um dos alunos de sua primeira turma, Silvio Luiz Rocha, se tornou professor no curso e ainda ministra aulas. “Fiz parte da primeira turma. Era uma experiência do mestre Jair com os alunos. O curso funcionava como um ateliê livre”, afirma Silvio, que após o falecimento de Jair, participou do processo de restauração do curso. “Considero esse curso como o melhor de restauração do Brasil, pois ele foi crescendo com o tempo. Contamos com muitos professores colaboradores que tinham muito interesse e vontade de contribuir com a Faop”, diz.
O curso é considerado a primeira experiência formal em formação de restauradores no país, e algumas décadas depois foi reconhecido pelo MEC.
Formandos do Curso de Restauro em 1991.Foto: Silvio Luiz Rocha
Preservando a memória das comunidades
Desde suas origens, o Curso Técnico em Conservação e Restauro tem a característica de contar com o apoio das comunidades e das paróquias para sua atividade. Atualmente, o curso tem uma parceria firmada na região e promove a restauração dos acervos comunitários como parte do estágio curricular dos alunos.
A escolha de utilizar esse tipo de acervo possibilita que as turmas se deparem com desafios reais de um trabalho de restauro e, ao mesmo tempo, contribui para que as obras das comunidades guardiãs sejam recuperadas e preservadas a preço mínimo.
Além disso, a equipe técnica também trabalha com os acervos comunitários, auxiliando os alunos no restauro de algumas obras, processo sempre orientado pelos professores. É também essa equipe que realiza visitas técnicas em diferentes municípios para avaliar os acervos. Em 2021, dez cidades foram visitadas.
Atualmente, 78 obras, entre as áreas de papel, pinturas e esculturas, estão em andamento. Entre 2020 e 2021, ainda sofrendo os impactos da pandemia e da ausência de aulas presenciais, seis obras foram devolvidas às suas comunidades.
Escultura de Senhor do Bonfim, do distrito de Ouro Preto, restaurada pela FAOP. Foto: Asscom Prefeitura de Ouro Preto
O Laboratório de Conservação e Restauro Jair Afonso Inácio | Labcor, inaugurado em 2018, presta serviços no campo da restauração de bens integrados móveis e imóveis.
Com um ambiente aparelhado com equipamentos modernos e de alta tecnologia, oferece serviços para todo público, elaborando projetos, orçamentos e laudos químicos, tanto para instituições e empresas quanto para a população em geral que busca o resgate da sua identidade e história. Atualmente, nove obras estão sendo restauradas pelo Laboratório, e duas delas tem previsão de entrega para o próximo mês.
Bianca Monticelli, coordenadora do Labcor, trabalhando no restauro de obra. Foto: Asscom FAOP
Desafios da profissão
Apesar do avanço nas últimas décadas em relação à profissão, há um longo caminho a ser traçado. A data comemorativa, por exemplo, foi criada há 11 anos apenas. Foi instituída no XVIII Congresso Internacional para a Conservação e Restauração de Bens Culturais realizado em Granada em 2011. Além disso, ainda não foi regulamentada no Brasil a profissão do conservador-restaurador de bens culturais móveis e integrados.
A coordenadora do Núcleo de Conservação e Restauro da FAOP, Roberta Aparecida da Silva, afirma que a área “possui por objetivo central manter a integridade física e estética de bens patrimoniais/culturais, permitindo a estes perpetuar o seu valor histórico através do tempo de forma que possam ser fontes de conhecimento de um legado tangível às futuras gerações.” Por isso, ela torce para que o reconhecimento alcance o patamar da importância deste ofício.