Por Larissa Pinto
“O Barroco é a minha segunda casa”, foi o que disse Antônio Maurício Maciel. Conhecido como Toninho, o dono do bar Barroco tem 60 anos, mas espírito de 20. Sempre com um sorriso no rosto e muita simpatia, ele atende a todos os tipos de clientes que entram no bar, desde estudantes, turistas, à frequentadores mais assíduos que ficam pendurados no balcão até duas da manhã.
Há 32 anos Toninho ainda morava em São Paulo quando recebeu a ligação de seu irmão João que o fazia uma proposta interessante, mas fora do comum. Havia um bar na rua Direita. “É um ponto muito bom, mas ele está mal trabalhado” dizia o irmão. O dono do bar queria ‘passá-lo pra frente’ e João estava interessado, mas Toninho hesitava “Mas bar? Eu nunca trabalhei com bar”. Seu irmão pediu que eles tentassem e, saindo de São Paulo e vindo para Ouro Preto, Toninho e João asumiram o Barroco. Eles trabalharam juntos por 12 anos, até que João teve câncer no estômago e, depois de sete meses doente, faleceu.
Desde então, o bar é administrado por Antônio e atrás do balcão ele já presenciou histórias das mais diversas e algumas estão presas à sua memória, por serem engraçadas e até mesmo inusitadas.
Era uma noite como outra qualquer, alguns clientes estão no bar, um homem entra apoiado em suas muletas e com uma certa dificuldade para andar. Ele se senta, pede uma dose de pinga com mel e coloca as muletas ao lado da sua mesa. A noite vai passando, um copo atrás do outro, a cachaça começa a surtir efeito e o homem vai ficando mais falante, ele conversa com todos ao seu redor e, quando é chegada a hora, levanta-se, paga a conta e vai embora deixando algo para trás. Nessa hora Toninho gargalha e afirma que o Barroco faz milagres ao contar que o que o homem havia esquecido eram suas muletas.
Com claro conforto de quem está realmente em casa, Toninho lida com seus clientes como se conversasse com amigos. Esse é o diferencial do bar, ali não é só um lugar com cerveja gelada e um ótima coxinha de frango. O Barroco vai além disso. É um lugar mágico onde o cheiro da cerveja e o barulho das conversas atravessadas no meio dos paralepípedos do barroco mineiro faz com que todos queiram se conhecer. No bar ninguém é realmente um estranho.
Entre um assunto e outro, Toninho se descreve, “um cara de bem com a vida, feliz, às vezes falo o que não devo, sou muito franco. Extremamente pontual com os meus compromissos. Procuro tratar as pessoas bem”, sobre o bar afirma “Preciso ter muito jogo de cintura”.
Seu filho tem nome de líder romano. Julio Cesar, 25, é formado em direto na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e é a maior inspiração de Toninho. Com muito orgulho e carinho ele guarda o convite de formatura do filho na parede do bar, mas não entre as tantas assinaturas de seus clientes. Essa parte de sua história ganha um lugar especial, Julio fica bem próximo a Toninho, atrás do balcão, perto do caixa e com uma luz logo acima da sua foto para deixar em evidência o orgulho de seu pai.
Casado há 28 anos, Toninho agradece a esposa que tem e fala sobre Margarete com muito carinho. Eles se entendem bem. Ela compreende que em alguns momentos o trabalho no bar o deixa nervoso. O casal tem suas diferenças, mas isso só parece agradar Toninho quando ele menciona como ela não gosta de trabalhar no Barroco. “Ela é ótima, muito dinâmica, mas comércio não é pra ela, não é sua ‘praia’”.
Agora o bar está de mudança, mas o que seria da rua Direita sem o Barroco? A alma da noite de Ouro Preto tem Antônio no caixa. Pessoas de todos os lugares já passaram por ali e deixaram sua marca através de uma assinatura na parede ou até mesmo no teto. É claro que Toninho não deixaria seus clientes perderem a sensação mágica de trocar palavras no meio da história mineira. Quando ele me contou que o Barroco continuaria na rua Direita meu coração não estava mais apertado. As noites banhadas a cerveja, coxinhas, conversas e descontração só muda o número no seu endereço quando passa para outro ponto quatro casas acima.
Por fim, Toninho conta onde se vê daqui a dez anos. Ele pretende estar aposentado, morando com sua esposa em Três Marias ou até mesmo em Ouro Preto e não se imagina cuidando do Barroco. Mas em dez anos ainda dá para pedir muita cerveja, comer inúmeras coxinhas de frango, beber doses e doses de pinga com mel e, até mesmo, esquecer suas muletas no bar.
Veja mais sbre o Legado do Bar do Barroco
# Bar do Barroco, 32 anos - Fotos Eduardo Tropia