Ana Carla Fonseca (Cainha)*
A economia criativa está na pauta do dia. Mas, afinal, o que ela defende? Dito de forma simples, a economia criativa reconhece que a criatividade é o grande ativo econômico de nossos dias. Afinal, para diferenciar produtos (qual a diferença entre dois detergentes, à parte perfume e cor?), serviços (quem discorda que celulares, cartões de crédito e bancos oferecem mais do mesmo?) e propostas, cada vez mais parecidos, haja criatividade! Porque quem não é reconhecido por oferecer algo diferente é condenado a brigar por preço. E, ao brigar por preço, todos perdem, inclusive quem finalmente "ganha" a concorrência.
O mesmo se dá em nossas cidades. Segundo a Organização Mundial de Turismo, em 2020 haverá mais de 1,6 bilhão de viagens internacionais (sem contar as nacionais!) a cada ano! Hoje, já há mais de 1 bilhão de viagens internacionais anualmente. Nessa festa, o Brasil participa com menos de 1% dos turistas que viajam a outros países. É chocante, tendo em vista que o Relatório de Competitividade de Viagem e Turismo do Forum Econômico Mundial sempre coloca nosso país no topo dos que mais têm recursos naturais e culturais, em todo o planeta - dois dos temas mais buscados pelos turistas do mundo.
Como transformar tanto potencial em solução é justamente o campinho da economia criativa. Que, aliada ao turismo, traz um mundo de oportunidades a cidades como Ouro Preto. Afinal, Ouro Preto - com sua arquitetura, suas histórias, sua gastronomia, sua música, seus contos e lendas, sua vontade de transformar seu presente em um futuro diferente e melhor - só tem uma. A economia criativa reconhece que, em um mundo no qual tudo parece muito igual, quem - cidades, produtos, serviços - tem algo diferente a oferecer, tem a faca e o queijo na mão. Nessas, Ouro Preto pode nadar de braçada, se cumprir algumas regrinhas básicas. A primeira é dar voz ao cidadão - não ao da algazarra, que se manifesta sem saber bem por quê - mas sim ao cidadão propositivo, participativo, engajado em transformar sua cidade em um lugar melhor para todos. Uma cidade criativa é um ambiente mais propício à criatividade, o que favorece o bem-estar de quem nela vive, os negócios que se desenvolvem e que, por sua vez, geram mais recursos para a cidade.
Os turistas cada vez mais buscam propostas diferenciais, que os façam vivenciar experiências diferentes, irrepetíveis, interativas. Ouro Preto oferece um manancial de possibilidades - das ruas repletas de histórias, sons e vozes para quem se transporta no tempo, a sabores e cores para quem busca mergulhar em suas ruas, vielas e memórias. Transformar tanto potencial em realidade é missão de cada um de nós. Do Prefeito e do Secretariado, que tem o privilégio e as condições de desenvolver políticas públicas destinadas a concretizar o potencial de Ouro Preto, pensando fora da caixinha, aos empreendedores criativos, que buscam oferecer ao turista aquele pão de queijo como em outro lugar não há e dicas incríveis do que fazer na região, o endereço de uma lojinha de artesanato única. Mas também da sociedade civil - pessoas que, como você e eu, brigam com quem joga lixo no espaço público, propõem transformar as paredes externas dos edifícios mais centrais em salas de cinema e participam com propostas para transformar Ouro Preto em um lugar melhor, colocando-se como protagonistas dessa mudança. Afinal, mudar o mundo é difícil; mas mudar o mundo ao redor de nós, pensando em o que oferecer de diferente, o que proporcionar aos outros de mais único e diferencial, do que há em nossa cidade, isso é não só um potencial econômico, como um grande prazer.
* Economista e doutora em Urbanismo, é referência internacional em economia criativa e cidades, dirige a Garimpo de Soluções, que já atuou em 28 países e em todos os Estados brasileiros. É diretora da www.garimpodesolucoes.com.br