Foi encerrada, neste domingo, 2 de novembro, a 10ª edição do Fórum das Letras de Ouro Preto, que este ano abordou a temática “Escritas em Transe”. Ao longo de cinco dias, mais de 100 autores nacionais e internacionais e quase uma centena atividades gratuitas como debates, apresentações teatrais, intervenções artísticas e oficinas, entre outras, movimentaram a cidade barroca mineira. Os principais debates giraram em torno da articulação entre literatura e política, com discussões sobre a ditadura, censura e liberdade de expressão, mas houve espaço também para conversas sobre o processo criativo e o impacto das novas mídias na produção literária.
A cerimônia de abertura, com show Olhos de Onda de Adriana Calcanhotto, lotou todos os lugares do Cine Teatro Vila Rica, além da área externa montada para o evento. Após a apresentação, a cantora, juntamente com a idealizadora do Fórum das Letras, Guiomar de Grammont, participou de uma conversa com os fãs, debatendo assuntos que permeiam sua carreira e o fazer literário de suas canções. “Foi uma edição emocionante. As mesas temáticas foram incríveis e fortes. O Fórum das Letras cumpriu seu papel no Brasil em um momento muito oportuno em que havia uma recepção intensa para as questões tratadas. O Fórum das Letrinhas também contou com uma programação diversificada, com esquetes teatrais, contações de histórias e a inauguração da Sala de Leitura no Morro de São Sebastião, em Ouro Preto”, destacou a coordenadora do evento.
A maratona literária contou com seis diferentes atrações: Programação Principal, Ciclo Jornalismo e Literatura, Fórum das Letrinhas, Ciclo de Debates e #DasLetras, novo espaço dedicado especialmente para o público jovem. Paralelamente, foi realizado o Fórum das Letras Jurídicas, organizado pelo curso de Direito da UFOP. Entre os autores internacionais, participaram desta edição a espanhola Care Santos, o iraniano Mohsen Emadi, a hondurenha Julia Olivera, a portuguesa Lídia Jorge e o suíço Patrick Straumman. Entre os autores nacionais, participaram do evento Cláudio Aguiar, Elisa Lucinda, Frei Betto, Luiza Villaméa, Ricardo Kostcho, entre muitos outros.
Um dos momentos mais importantes do evento foi a assinatura da carta de intenção para a criação da Casa Brasileira de Refúgio (CABRA). Trata-se do primeiro espaço no Brasil e na América Latina que abrigará, a partir de 2015, escritores em situação de risco fornecendo estadia, alimentação e todo o apoio necessário para os politicamente perseguidos pelo exercício literário. O projeto é uma parceria entre a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e a International Cities of Refuge Network (ICORN), cujo diretor, Helge Lund, esteve presente na cerimônia. “Hoje já são 45 cidades, quase todas na Europa, e nós estamos muito agradecidos de Ouro Preto ser a primeira cidade no Brasil a participar dessa rede”, afirmou.
A construção da CABRA de Ouro Preto tem inspiração nos moldes em que funciona a Casa Refúgio Citlaltepetl da Cidade do México. ‘‘O próprio escritor está convidado a se integrar na comunidade que o acolhe, e as pessoas da cidade acabam se beneficiando dessa convivência. Tanto o escritor quanto a comunidade ganham com isso: é uma verdadeira troca cultural’’, explicou Sylvie Debs, representante de ICORN no Brasil.
Outros pontos altos desta edição foram a participação dos escritores Ana Paula Maia, Ferréz e Pedro Gabriel no espaço #DasLetras. Destaque também para as homenagens aos 90 anos da Caravana Modernista apresentada pelo filósofo Eduardo Jardim e o Bicentenário de Aleijadinho, com uma exposição do fotógrafo Ferrante Ferranti na Casa dos Contos.
O Brado Retumbante (Benvirá), o mais novo livro de Paulo Markun, foi lançado no evento. O trabalho registra a luta pela democracia no Brasil, entre o golpe de 1964 e a campanha das diretas, em dois volumes de mais de 400 páginas. Markun foi também uma das estrelas de diferentes atrações no Fórum das Letras. Na programação “Ciclo Jornalismo e Literatura”, ele participou da mesa “Escritas da Experiência”, com participação de Ricardo Kotscho e Lira Neto e mediação de Audálio Dantas. Além disso, foi um dos protagonistas do debate sobre o jornalista Vladimir Herzog; morto durante a Ditadura. No Cine Vila Rica, a trajetória recente do Brasil foi tema de debate entre os biógrafosCláudio Aguiar, Mário Magalhães e o escritor Frei Betto, na mesa “Revelações à margem da História”.
A curadora Fórum das Letrinhas, Tereza Gabarra, ressaltou a importância da inauguração da Sala de Leitura na Escola Municipal Morro São Sebastião, localizada no bairro homônimo, além da doação dos mil livros, por meio da parceria com o Instituto Oldemburg. Ela cita ainda a realização do primeiro Seminário de Educação Infantil, promovido pelo Fórum das Letras, com o apoio da Prefeitura Municipal de Ouro Preto. A programação do Fórum das Letrinhas contou com 19 atividades voltadas para escolas da rede pública e privada de Minas Gerais, com o objetivo de incentivar o hábito da leitura e acompanhar o processo de interpretação feito pelos alunos.
Pelo segundo ano consecutivo, o Fórum das Letras contou também com a realização do Fórum das Letras Jurídicas, idealizado pelo curso de Direito da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), com a participação de Leonardo Sakamoto. Para o coordenador do Núcleo de Pesquisas em Direito do Patrimônio Cultural do Departamento de Direito da UFOP, Carlos Magno de Souza Paiva, o evento é um espaço democrático e promove cada vez mais a interação com diversos cursos da Universidade.
Mais informações sobre o evento, estão disponíveis no site www.forumdasletras.ufop.br.