Uma pequena joia

                                                                                              Chico Bastos*

                                                                               Do Instituto Cultural Diogo de Vasconcellos

            Acabo de ler, de uma sentada, o novo livro de Francelina Ibrahim Drummond,” A biografia de Aleijadinho e seu contexto”, publicado pela Editora Liberdade, que ela e Arnaldo Drummond mantêm, na boa tradição ouro-pretana.

            Escrito em linguagem culta e agradável, o opúsculo é uma pequena e bem traba­lha­­da joia. A aparente singeleza, que o formato e a capa sugerem, é enganosa: revela-se artifício inteligente e raro num mercado editorial dominado pela gritaria visual das embalagens “vendedoras”.

O detalhe do design gráfico da capa faz a citação visual de outra joia ouropretana, ”A Arte em Ouro Preto”, de Diogo de Vasconcellos, publicada pela Academia Mineira de Letras, em 1934, edição póstuma. 

           O minimalismo do livro de Francelina termina aí.

Aberto, revela a consistência de uma análise madura, criteriosa, surpreendente. Ao tratar do legado de Bretas, relaciona fatos de forma inédita e coerente. Como uma lente mágica, nos imerge gostosa­mente no riquís­simo contexto cultural da Ouro Preto oitocentista, e propõe leituras inusitadas, que fogem do ramerrão repetitivo da maioria das publicações sobre a história conhecida de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

Baseada na vivência ouro-pretana, uma leitura “patrícia” de nossa história permite explorar labirintos recônditos, que a historiografia dominante nem sempre valoriza. É cer­to que pode, eventualmente, invadir a zona de conforto de especialistas, mas certamente aviva o fogo brando em que se cozinha a história “estabelecida”.

O livro de Francelina tem o frescor de um broto que explode em árvore (mais que) centenária. Traz a perspectiva de múltiplos ramos - novos caminhos -, ao mesmo tempo renovadores e estimulantes.

Para mim, sobretudo, evidencia a importância dos arquivos preservados na cidade de Ouro Preto, e do “caldo” cultural que impregna naturalmente a alma dos ouropreta­nos, de hoje e de sempre, na convivência, erudita ou prosaica, com o legado da velha capital de Minas.

Imperdível!

*Ouro-pretano. Publicitário e escritor.