FAOP e Guilherme Mansur promovem nova edição do projeto Chuva de Poesia, dia 4 de abril. Desta vez, 3 mil folhetos com versículos do Eclesiastes, traduzidos por Haroldo de Campos, serão lançados das torres da igreja do Pilar
No Sábado de Aleluia a previsão é que chovam trechos do Eclesiastes do céu de Ouro Preto. Trata-se de mais uma edição do projeto Chuva de Poesia, que o poeta Guilherme Mansur realiza em parceria com a Fundação de Arte de Ouro Preto | FAOP.
A partir das 15h do dia 4 de abril, três mil folhetos coloridos voarão das torres da basílica de Nossa Senhora do Pilar. Os papéis levam impressa tradução do poeta Haroldo de Campos para 18 versículos do primeiro capítulo do Eclesiastes, livro do Antigo Testamento da Bíblia. A versão de Haroldo de Campos [Qohélet (O-que-sabe) – Eclesiastes, editora Perspectiva, 1990] procura manter/transpor o ritmo poético, a sonoridade e a rede metafórica do original.
“No ano passado, fizemos a chuva com as traduções do Gênesis, também transcriado pelo Haroldo de Campos, no livroBeres’shith – A cena da origem. Essa chuva no próximo Sábado de Aleluia é, de certa forma, uma continuação d’A cena da origem”, explica Guilherme Mansur. O poeta ouro-pretano, que mantém a Tipografia do Fundo de Ouro Preto, editou três livros de Haroldo de Campos. Segundo Mansur, a“Chuva Eclesiastes inaugura uma importante parceria com a Fundação de Arte de Ouro Preto.
Júlia Mitraud, presidente da FAOP diz que "A Fundação se sente honrada em fazer parte deste lindo projeto, onde a disseminação da cultura se dá de forma livre e democrática, o que vem de encontro à missão da FAOP de valorizar a arte em todas suas dimensões, além de ser o início de uma relação de maior proximidade com os artistas de Ouro Preto."
A iniciativa é patrocinada pela Cemig por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal.
Eclesiastes: Qohélet (O-que-sabe).
O Eclesiastes faz parte dos livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento das Bíblias cristã e judaica, vem depois doLivro dos Provérbios e antes doCântico dos Cânticos. Embora seu significado seja incerto, a palavra tem sido traduzida para o português como pregador ou preletor.
O principal tema do Eclesiastes é a vaidade das coisas humanas, com certa lição de desapego dos bens terrestres. Seguindo esse preceito, Haroldo de Campos encontra soluções novas para traduzir termos como “tudo é vaidade”, parte do versículo mais famoso do Eclesiastes. Na Vulgata de São Jerônimo, consta como "vanitasvanitatum, et omniavanitas", quer dizer, "vaidade das vaidades, tudo é vaidade".
Sobre a Chuva de Poesia
Há exatos 22 anos a Chuva de Poesia é feita com sucesso em Ouro Preto e outras cidades, como Olinda, Paraty e Belo Horizonte. Tudo começou no carnaval de 1993 e mais de 300 poetas já fizeram parte do projeto, como Gregório de Matos, Joan Brossa, Affonso Ávila, Manuel Maria du Bocage, Haroldo de Campos, entre outros.
O happening funciona assim: o poeta Guilherme Mansur edita e diagrama poemas dos mais diversos autores em folhetos coloridos. A Trupe Tupã na Torre, um grupo de ouro-pretanos, sobe até as torres das igrejas da cidade e lá do alto atira as folhas ao vento.
Sobre Guilherme Mansur
Guilherme Mansur é poeta, editor e tipógrafo, nascido em Ouro Preto. Mantém a Tipografia do Fundo de Ouro Preto, onde faz edições de poesia desde 1977, como a revista-saco “Poesia Livre” (anos 1970), ação literária que consta no catálogo “Poesia Marginal”, coordenação de Eucanaã Ferraz, edição do Instituto Moreira Salles.
Além da própria obra, Guilherme tem publicado plaquetes de importantes autores brasileiros, como Paulo Leminski, Alice Ruiz, Régis Bonvicino, Haroldo de Campos, entre outros. Montou o poema-instalação Sísifo. Nos anos 1990 editou a série de poemas-cartazes Não/Nada com vários colaboradores, como Augusto de Campos e Arnaldo Antunes, entre outros.
Foto Lucas Godoy